quarta-feira, 24 de junho de 2015

Humanizar o parto é realmente bom?


Bem, chegamos à 10ª postagem e vem uma pergunta, será que o parto humanizado é realmente o melhor método? Acreditamos que sim, mas vamos argumentar.
A ideia do parto humanizado não se restringe apenas ao momento do parto em si, mas desde o momento que a mulher sabe da gravidez e durante todo o pré-natal, inclusive um pré-natal bem feito evita várias complicações na hora do parto além de dar informações suficientes para que a mulher possa escolher que modalidade de parto deseja. Informações são sempre bem-vindas e quando dadas corretamente dão à mulher um leque de escolhas, sendo o parto humanizado uma delas. Afinal de contas as expectativas quanto ao parto estão relacionadas à maneira como as informações sobre o assunto são disponibilizadas às gestantes.

Contudo promover o parto humanizado é um grande desafio, o que não quer dizer adotar práticas antigas como as de nossas avós ou mães, mas transformar o ambiente hospitalar em algo mais “familiar”, integrando nesse processo os recursos tecnológicos e de competência humana aos quais a mulher e o bebê tem direito.
O termo "humanizar" refere-se a uma atenção que parte do reconhecimento dos direitos fundamentais de mães e crianças e do direito à tecnologia apropriada na assistência. Esse conjunto de demandas incluiria o direito à escolha de local, pessoas e formas de assistência no parto; a preservação da integridade corporal de mães e crianças; o respeito ao parto como experiência altamente pessoal, sexual e familiar; a assistência à saúde e os apoios emocionais, sociais e materiais no ciclo gravídico-puerperal; a proteção contra abuso e negligência (QUEIROZ et al., 2003).
Concordando com o autor acima, o Ministério da Saúde no Caderno HuamanizaSUS  Volume 4 (2014) também preconiza medidas não-farmacológicas e não-invasivas que devem ser utilizadas para minimizar o estresse e aliviar a dor, que podem ser realizadas por familiares e/ou profissionais. Ponto já abordado em outro post, dê uma olhada.

Desde o momento que começam as primeiras contrações e a ocitocina começa a circular pelo copo até a saída do bebê é um longo processo, no parto humanizado pode chegar a 12 horas, onde a mulher precisa de toda atenção. Injetar fármacos em bolus, como a ocitocina, só atrapalham o parto, haja visto que uma quantidade grande injetada no sangue de uma única vez aumentara a resistência dos receptores de ocitocina no útero, qual a consequência disso? Mais ocitocina será injetada criando assim um ciclo, o que também já foi abordado.
Depois de tudo que já foi apresentado aqui chegamos a um consenso a mulher deve ser informada e ouvida, sempre. O parto humanizado deve girar em torno da mulher e não apenas olhar através dela. Afinal de contas o que vocês realmente pensam sobre o parto humanizado? Quais suas impressões que tiveram durante todo esse tempo, comentem. Até a próxima.

Referência
Brasil. Ministério da Saúde. Humanização do parto e do nascimento / Ministério da Saúde. Universidade Estadual do Ceará. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 465 p.: il. – (Cadernos HumanizaSUS; v. 4. Disponível em <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno_humanizasus_v4_humanizacao_partp.pdf>
Silvani, Cristiana Maria Baldo. Parto humanizado - Uma revisão bibliográfica. Disponível em: < http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/28095/000767445.pdf>


sábado, 20 de junho de 2015

Interferir para que?


Como sabemos, e já foi dito aqui em outro post, o corpo humano é uma máquina bastante eficiente e qualquer tentativa de emular seu funcionamento pode causar vários riscos, e quando se trata da gravidez esse risco aumenta haja visto que qualquer substância mal administrada pode influenciar negativamente o desenvolvimento do bebê.
Tendo em vista que o organismo da mulher já é bem eficiente no processo de gerar, gestar e parir, e observando a Política Nacional do Parto Humanizado este processo deve acontecer com o mínimo de perturbações e intervenções possíveis. Num parto normal o próprio organismo materno se ocupa em produzir anestésicos (beta-endorfinas) que aliviam a dor do parto, ou mesmo de produzir níveis suficientes de ocitocina o que previne hemorragia pós-parto.

Isso levanta um questionamento, quais seriam os riscos para o corpo da mãe com essas intervenções?
Comecemos abordando sobre o bebê. Durante o período pré-natal seu cérebro está suscetível a sofrer danos irreversíveis e estudos apontam que substâncias ministradas perto da hora do parto, mesmo em diminutas doses, podem causar efeitos adversos na estrutura e química do recém-nascido, danos esses que podem demorar anos até serem descobertos e devidamente tratados.

Um medicamento ministrado diretamente na corrente sanguínea da mãe consequentemente também atingirá o bebê. A meia-vida das substâncias ministradas (ou seja, o tempo que se leva para reduzir em 50% o nível do fármaco na corrente sanguínea) é muito maior no bebê. Tomemos por exemplo a buvicaína (anestésico local derivado da cocaína), tem uma meia-vida de 2,7 horas em adultos, já em um recém-nascido tem meia-vida de 8 horas.
Os fármacos utilizados em procedimentos de rotina nos partos continuam agindo no corpo da mãe e do bebê por horas após o parto, inclusive fazendo com que a mãe esteja sedada no momento do primeiro encontro com seu filho, e que o bebê nasça sob o efeito destas mesmas drogas, que como já foi dito causará um efeito prolongado em seu corpo o que poderá mudanças em seu cérebro. As consequências dessa interferência poderão ser percebidas mais tarde visto que no momento do parto o cérebro do bebê deveria estar inundado por ocitocina.

O perfeito funcionamento da produção de hormônios pelo corpo materno é controlado pelo sistema límbico, e este só funciona adequadamente em ambientes tranquilos e agradáveis, muito diferente de muitas salas de hospitais onde as mulheres tem seus bebês, e é justamente aí que a ideia do parto humanizado se baseia que é prover conforto e condições favoráveis para que a mulher dê a luz em condições que promovam seu bem-estar e com a mínima interferência possível, haja visto que seu corpo é preparado para este momento.




Referencia

Buckley, S. Epidurals: risks and concerns for mother and baby. Disponível em: <http://sarahbuckley.com/epidurals-risks-and-concerns-for-mother-and-baby>.


Brasil. Ministério da Saúde. Humanização do parto e do nascimento / Ministério da Saúde. Universidade Estadual do Ceará. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 465 p.: il. – (Cadernos HumanizaSUS; v. 4. Disponível em <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno_humanizasus_v4_humanizacao_parto.pdf>.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Sejam bem-vindos a mais uma publicação do Blog Bioquímica do Parto Humanizado!

Já abordamos diversos assuntos tais como ocitocina, as vantagens do aleitamento materno, cesárea agendadas, dentre outros!

Mas você pode se perguntar...
“E quando o pequenino resolve chegar mais cedo?!”

Parto pré-termo

À essa chegada antecipada do bebê damos o nome de pré-termo.

O nascimento pré-termo é aquele que ocorre antes da 37ª semana de gestação – é o problema perinatal atual mais importante, pois está associado à morbidade e mortalidade significativas no início da vida. Sua prevalência é elevada e está aumentando em países desenvolvidos e em algumas cidades brasileiras, nas quais também é o principal fator que favorece a mortalidade infantil, principalmente no período perinatal. No Brasil, com as informações provenientes do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), não é possível estimar-se sua prevalência devido à baixa confiabilidade dos dados referentes à idade gestacional. Sendo assim, são necessários estudos populacionais para se avaliar a sua prevalência e evolução ao longo do tempo.

Figura 1.

              Uma recente revisão de estudos de base populacional no Brasil avaliou o aumento do nascimento pré-termo no país por meio de pesquisa nas bases de dados Medline e Lilacs, incluindo estudos publicados em periódicos, teses e dissertações, desde 1950. Foram encontrados 71 estudos, dos quais restaram 12 que cumpriam integralmente os critérios de inclusão. A taxa de nascimento pré-termo variou de 3,4 a 15% nas regiões Sul e Sudeste, entre 1978 e 2004. Na região Nordeste, estudos realizados entre 1984 e 1998 mostraram taxas de 3,8 a 10,2%, também com tendência de aumento. Não foram encontrados estudos das regiões Norte e Centro-Oeste. Os autores concluem que há uma clara evidência de aumento das taxas de nascimento pré-termo no país.

Figura 2.

 O parto pré-termo pode ser espontâneo ou medicamente induzido. Dentre os espontâneos existem dois subtipos: precedido por trabalho de parto prematuro ou devido à ruptura prematura de membranas, independente de o parto ser vaginal ou cesariano; quando medicamente induzido, o parto ocorre por indicação materna ou fetal, podendo ser iniciado com medicamentos ou ser realizada cesariana sem trabalho de parto. O aumento recente na intervenção médica contribuiu para o aumento na prevalência do nascimento pré-termo, sendo que uma parcela dos partos pré-termo medicamente induzidos parece ser incorretamente indicada, provocando prematuridade iatrogênica. No Brasil observa-se uma verdadeira “epidemia” de cesárea, associada a índices extremamente elevados de nascimentos pré-termo, alguns ocorrendo sem razão médica aparente. Como já discutimos em publicação anterior! Porém, a etiologia do nascimento pré-termo não é bem conhecida.

O parto pré-termo pode ser dividido de acordo com a idade gestacional em:
· Prematuridade extrema, < 28 semanas (5%).
· Prematuridade grave, 28-30 semanas (15%).
· Prematuridade moderada, 31-33 semanas (20%).
· Prematuridade quase-termo, 34-36 semanas (60%).

Figura 3.

Fatores de risco
· História reprodutiva de PPT anterior e de reprodução assistida.
· Hemorragia anteparto, rotura prematura das membranas, anomalias uterinas, mioma, conização do colo (notadamente aquelas feitas com lâmina de bisturi frio).
· Fatores fetais/intrauterinos: prenhez gemelar, anomalias fetais, polidrâmnio.
· Infecção: corioamnionite, bacteriúria, vaginose bacteriana com história de PPT.
· Fatores demográficos: baixo-nível socioeconômico e educacional, etnicidade (em países desenvolvidos), idade materna 35 anos.
· Hábitos de vida: tabagismo, uso de drogas ilícitas, estresse, abuso físico.
· Assistência pré-natal deficiente, baixo peso pré-gravídico e ganho de peso inadequado na gravidez. Os diagnósticos mais frequentemente associados ao parto pretermo indicado são as desordens hipertensivas, hemorragia e sofrimento fetal agudo e crônico (CIUR).

Quais as condições para que o feto seja viável?

A viabilidade é definida como a capacidade dos fetos de sobreviver no meio extra-uterino (i.e., após um parto prematuro). Geralmente, fetos pesando menos de 500g ao nascimento não sobrevivem. Muitas crianças nascem a termo com peso baixo por causa de retardo do crescimento intra-uterino. Entretanto, alguns fetos que nascem pesando menos de 500g poderão sobreviver se receberem cuidados adequados no pós-parto; estes fetos são denominados crianças com peso extremamente baixo ao nascimento, ou crianças imaturas. A maioria dos fetos que nascem pesando entre 1.500 e 2.500g sobrevive, mas pode apresentar complicações; são as chamadas crianças prematuras. A prematuridade é uma das causas mais comuns de morbidade morte perinatal.

Para o feto adquirir tal viabilidade é fundamental que ele desenvolva algumas características e estruturas, além da maturação básica dos sistemas fundamentais. Estruturas como verniz caseosa, lanugo e surfactante.

A verniz caseosa consiste em um material gorduroso, com aspecto de queijo. Esta é constituída por um material gorduroso secretado pelas glândulas sebáceas do feto e por células mortas da epiderme. A verniz caseosa protege a delicada pele do feto contra abrasões, rachaduras e endurecimento que poderia resultar em exposição ao líquido amniótico.

Figura 4. Verniz caseosa.


Geralmente, o corpo do feto com 20 semanas já está coberto por uma penugem muito delicada, o lanugo, que ajuda a manter a verniz caseosa presa à pele.

Enquanto isso, com 24 semanas, as células epiteliais secretoras (pneumócitos tipo II) dos septos interalveolares do pulmão começam a secretar o surfactante, um líquido tensoativo que mantém abertos os alvéolos pulmonares em desenvolvimento. (Detalhes sobre surfactante em publicação anterior.)

Figura 5. Exemplo de lípideos.



Ficou curioso sobre prematuridade? O que acha de acompanhar o primeiro ano de vida de um prematuro?

Assista! É emocionante...






Pois é isso, pessoal! Parto é algo muito rico em informações, e estaremos sempre trazendo novos assuntos pertinentes ao nosso tema.


Até a próxima!

Referências

MOORE K. L.; PERSAUD T. V. N. Embriologia Clínica. 7ed. Elservier: Rio de Janeiro, 2004.

MONTENEGRO, C. A. B.; REZENDE FILHO, J.  Descolamento prematuro da placenta. In: 
MONTENEGRO, C. A. B.; REZENDE FILHO, J. Rezende obstetrícia. 11.ed. Rio de Janeiro: Guanabara 

Koogan, 2010. p.409-415. 

BETTIOL. H.; Epidemiologia do nascimento pré-termo: tendências atuais. Departamento de Puericultura e Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. 2010.