Como sabemos, e já foi
dito aqui em outro post, o corpo humano é uma máquina bastante eficiente e
qualquer tentativa de emular seu funcionamento pode causar vários riscos, e
quando se trata da gravidez esse risco aumenta haja visto que qualquer substância
mal administrada pode influenciar negativamente o desenvolvimento do bebê.
Tendo em vista que o
organismo da mulher já é bem eficiente no processo de gerar, gestar e parir, e
observando a Política Nacional do Parto Humanizado este processo deve acontecer
com o mínimo de perturbações e intervenções possíveis. Num parto normal o próprio
organismo materno se ocupa em produzir anestésicos (beta-endorfinas) que
aliviam a dor do parto, ou mesmo de produzir níveis suficientes de ocitocina o que
previne hemorragia pós-parto.
Isso levanta um
questionamento, quais seriam os riscos para o corpo da mãe com essas
intervenções?
Comecemos abordando
sobre o bebê. Durante o período pré-natal seu cérebro está suscetível a sofrer
danos irreversíveis e estudos apontam que substâncias ministradas perto da hora
do parto, mesmo em diminutas doses, podem causar efeitos adversos na estrutura
e química do recém-nascido, danos esses que podem demorar anos até serem
descobertos e devidamente tratados.
Um medicamento
ministrado diretamente na corrente sanguínea da mãe consequentemente também
atingirá o bebê. A meia-vida das substâncias ministradas (ou seja, o tempo que
se leva para reduzir em 50% o nível do fármaco na corrente sanguínea) é muito
maior no bebê. Tomemos por exemplo a buvicaína (anestésico local derivado da
cocaína), tem uma meia-vida de 2,7 horas em adultos, já em um recém-nascido tem
meia-vida de 8 horas.
Os fármacos utilizados
em procedimentos de rotina nos partos continuam agindo no corpo da mãe e do
bebê por horas após o parto, inclusive fazendo com que a mãe esteja sedada no
momento do primeiro encontro com seu filho, e que o bebê nasça sob o efeito
destas mesmas drogas, que como já foi dito causará um efeito prolongado em seu
corpo o que poderá mudanças em seu cérebro. As consequências dessa interferência
poderão ser percebidas mais tarde visto que no momento do parto o cérebro do
bebê deveria estar inundado por ocitocina.
O perfeito
funcionamento da produção de hormônios pelo corpo materno é controlado pelo
sistema límbico, e este só funciona adequadamente em ambientes tranquilos e
agradáveis, muito diferente de muitas salas de hospitais onde as mulheres tem
seus bebês, e é justamente aí que a ideia do parto humanizado se baseia que é
prover conforto e condições favoráveis para que a mulher dê a luz em condições
que promovam seu bem-estar e com a mínima interferência possível, haja visto
que seu corpo é preparado para este momento.
Referencia
Buckley, S. Epidurals: risks and concerns for mother and
baby. Disponível em: <http://sarahbuckley.com/epidurals-risks-and-concerns-for-mother-and-baby>.
Brasil. Ministério da
Saúde. Humanização do parto e do nascimento / Ministério da Saúde. Universidade
Estadual do Ceará. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 465 p.: il. –
(Cadernos HumanizaSUS; v. 4. Disponível em
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno_humanizasus_v4_humanizacao_parto.pdf>.
Interessante ver como em um passado não tão distante pouco se interferia no parto, depois passou-se por uma alta interferência, e retornamos à interferência mínima. Só que, com os recursos tecnológicos e científicos, podemos assistir esse processo natural de formas a prover maior segurança tanto à parturiente quanto ao bebê.
ResponderExcluirO citocromo p450 (família de enzimas hepáticas que agem na depuração de várias substâncias) se mantém em cerca de um terço da quantidade de um adulto, reduzindo em muito a capacidade de depuração. Por isso a meia vida no feto é tão maior que na mãe, como falado na postagem.
Nada como deixar a natureza seguir seu curso e interferir somente em casos realmente necessários.
Fonte: http://www.facmed.unam.mx/publicaciones/ampb/numeros/2012/02/g_3erArticulo.pdf
ExcluirÓtima postagem! Vale a pena ressaltar sobre a janela terapêutica de fármacos tanto no organismo da mãe quanto no feto. Assim, como fora dito que o tempo de meia vida do fármaco na corrente sanguínea da mãe é menor que no feto, se essa substância for administrada em gestantes sem o devido cuidado com o feto e suas propriedades cinéticas com relação à substância, pode ser que a dose do fármaco saia da janela terapêutica e encontre-se em doses tóxicas para o bebê. Enfim, vale a pena refletir sobre isso.
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