quarta-feira, 24 de junho de 2015

Humanizar o parto é realmente bom?


Bem, chegamos à 10ª postagem e vem uma pergunta, será que o parto humanizado é realmente o melhor método? Acreditamos que sim, mas vamos argumentar.
A ideia do parto humanizado não se restringe apenas ao momento do parto em si, mas desde o momento que a mulher sabe da gravidez e durante todo o pré-natal, inclusive um pré-natal bem feito evita várias complicações na hora do parto além de dar informações suficientes para que a mulher possa escolher que modalidade de parto deseja. Informações são sempre bem-vindas e quando dadas corretamente dão à mulher um leque de escolhas, sendo o parto humanizado uma delas. Afinal de contas as expectativas quanto ao parto estão relacionadas à maneira como as informações sobre o assunto são disponibilizadas às gestantes.

Contudo promover o parto humanizado é um grande desafio, o que não quer dizer adotar práticas antigas como as de nossas avós ou mães, mas transformar o ambiente hospitalar em algo mais “familiar”, integrando nesse processo os recursos tecnológicos e de competência humana aos quais a mulher e o bebê tem direito.
O termo "humanizar" refere-se a uma atenção que parte do reconhecimento dos direitos fundamentais de mães e crianças e do direito à tecnologia apropriada na assistência. Esse conjunto de demandas incluiria o direito à escolha de local, pessoas e formas de assistência no parto; a preservação da integridade corporal de mães e crianças; o respeito ao parto como experiência altamente pessoal, sexual e familiar; a assistência à saúde e os apoios emocionais, sociais e materiais no ciclo gravídico-puerperal; a proteção contra abuso e negligência (QUEIROZ et al., 2003).
Concordando com o autor acima, o Ministério da Saúde no Caderno HuamanizaSUS  Volume 4 (2014) também preconiza medidas não-farmacológicas e não-invasivas que devem ser utilizadas para minimizar o estresse e aliviar a dor, que podem ser realizadas por familiares e/ou profissionais. Ponto já abordado em outro post, dê uma olhada.

Desde o momento que começam as primeiras contrações e a ocitocina começa a circular pelo copo até a saída do bebê é um longo processo, no parto humanizado pode chegar a 12 horas, onde a mulher precisa de toda atenção. Injetar fármacos em bolus, como a ocitocina, só atrapalham o parto, haja visto que uma quantidade grande injetada no sangue de uma única vez aumentara a resistência dos receptores de ocitocina no útero, qual a consequência disso? Mais ocitocina será injetada criando assim um ciclo, o que também já foi abordado.
Depois de tudo que já foi apresentado aqui chegamos a um consenso a mulher deve ser informada e ouvida, sempre. O parto humanizado deve girar em torno da mulher e não apenas olhar através dela. Afinal de contas o que vocês realmente pensam sobre o parto humanizado? Quais suas impressões que tiveram durante todo esse tempo, comentem. Até a próxima.

Referência
Brasil. Ministério da Saúde. Humanização do parto e do nascimento / Ministério da Saúde. Universidade Estadual do Ceará. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 465 p.: il. – (Cadernos HumanizaSUS; v. 4. Disponível em <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno_humanizasus_v4_humanizacao_partp.pdf>
Silvani, Cristiana Maria Baldo. Parto humanizado - Uma revisão bibliográfica. Disponível em: < http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/28095/000767445.pdf>


sábado, 20 de junho de 2015

Interferir para que?


Como sabemos, e já foi dito aqui em outro post, o corpo humano é uma máquina bastante eficiente e qualquer tentativa de emular seu funcionamento pode causar vários riscos, e quando se trata da gravidez esse risco aumenta haja visto que qualquer substância mal administrada pode influenciar negativamente o desenvolvimento do bebê.
Tendo em vista que o organismo da mulher já é bem eficiente no processo de gerar, gestar e parir, e observando a Política Nacional do Parto Humanizado este processo deve acontecer com o mínimo de perturbações e intervenções possíveis. Num parto normal o próprio organismo materno se ocupa em produzir anestésicos (beta-endorfinas) que aliviam a dor do parto, ou mesmo de produzir níveis suficientes de ocitocina o que previne hemorragia pós-parto.

Isso levanta um questionamento, quais seriam os riscos para o corpo da mãe com essas intervenções?
Comecemos abordando sobre o bebê. Durante o período pré-natal seu cérebro está suscetível a sofrer danos irreversíveis e estudos apontam que substâncias ministradas perto da hora do parto, mesmo em diminutas doses, podem causar efeitos adversos na estrutura e química do recém-nascido, danos esses que podem demorar anos até serem descobertos e devidamente tratados.

Um medicamento ministrado diretamente na corrente sanguínea da mãe consequentemente também atingirá o bebê. A meia-vida das substâncias ministradas (ou seja, o tempo que se leva para reduzir em 50% o nível do fármaco na corrente sanguínea) é muito maior no bebê. Tomemos por exemplo a buvicaína (anestésico local derivado da cocaína), tem uma meia-vida de 2,7 horas em adultos, já em um recém-nascido tem meia-vida de 8 horas.
Os fármacos utilizados em procedimentos de rotina nos partos continuam agindo no corpo da mãe e do bebê por horas após o parto, inclusive fazendo com que a mãe esteja sedada no momento do primeiro encontro com seu filho, e que o bebê nasça sob o efeito destas mesmas drogas, que como já foi dito causará um efeito prolongado em seu corpo o que poderá mudanças em seu cérebro. As consequências dessa interferência poderão ser percebidas mais tarde visto que no momento do parto o cérebro do bebê deveria estar inundado por ocitocina.

O perfeito funcionamento da produção de hormônios pelo corpo materno é controlado pelo sistema límbico, e este só funciona adequadamente em ambientes tranquilos e agradáveis, muito diferente de muitas salas de hospitais onde as mulheres tem seus bebês, e é justamente aí que a ideia do parto humanizado se baseia que é prover conforto e condições favoráveis para que a mulher dê a luz em condições que promovam seu bem-estar e com a mínima interferência possível, haja visto que seu corpo é preparado para este momento.




Referencia

Buckley, S. Epidurals: risks and concerns for mother and baby. Disponível em: <http://sarahbuckley.com/epidurals-risks-and-concerns-for-mother-and-baby>.


Brasil. Ministério da Saúde. Humanização do parto e do nascimento / Ministério da Saúde. Universidade Estadual do Ceará. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 465 p.: il. – (Cadernos HumanizaSUS; v. 4. Disponível em <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno_humanizasus_v4_humanizacao_parto.pdf>.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Sejam bem-vindos a mais uma publicação do Blog Bioquímica do Parto Humanizado!

Já abordamos diversos assuntos tais como ocitocina, as vantagens do aleitamento materno, cesárea agendadas, dentre outros!

Mas você pode se perguntar...
“E quando o pequenino resolve chegar mais cedo?!”

Parto pré-termo

À essa chegada antecipada do bebê damos o nome de pré-termo.

O nascimento pré-termo é aquele que ocorre antes da 37ª semana de gestação – é o problema perinatal atual mais importante, pois está associado à morbidade e mortalidade significativas no início da vida. Sua prevalência é elevada e está aumentando em países desenvolvidos e em algumas cidades brasileiras, nas quais também é o principal fator que favorece a mortalidade infantil, principalmente no período perinatal. No Brasil, com as informações provenientes do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), não é possível estimar-se sua prevalência devido à baixa confiabilidade dos dados referentes à idade gestacional. Sendo assim, são necessários estudos populacionais para se avaliar a sua prevalência e evolução ao longo do tempo.

Figura 1.

              Uma recente revisão de estudos de base populacional no Brasil avaliou o aumento do nascimento pré-termo no país por meio de pesquisa nas bases de dados Medline e Lilacs, incluindo estudos publicados em periódicos, teses e dissertações, desde 1950. Foram encontrados 71 estudos, dos quais restaram 12 que cumpriam integralmente os critérios de inclusão. A taxa de nascimento pré-termo variou de 3,4 a 15% nas regiões Sul e Sudeste, entre 1978 e 2004. Na região Nordeste, estudos realizados entre 1984 e 1998 mostraram taxas de 3,8 a 10,2%, também com tendência de aumento. Não foram encontrados estudos das regiões Norte e Centro-Oeste. Os autores concluem que há uma clara evidência de aumento das taxas de nascimento pré-termo no país.

Figura 2.

 O parto pré-termo pode ser espontâneo ou medicamente induzido. Dentre os espontâneos existem dois subtipos: precedido por trabalho de parto prematuro ou devido à ruptura prematura de membranas, independente de o parto ser vaginal ou cesariano; quando medicamente induzido, o parto ocorre por indicação materna ou fetal, podendo ser iniciado com medicamentos ou ser realizada cesariana sem trabalho de parto. O aumento recente na intervenção médica contribuiu para o aumento na prevalência do nascimento pré-termo, sendo que uma parcela dos partos pré-termo medicamente induzidos parece ser incorretamente indicada, provocando prematuridade iatrogênica. No Brasil observa-se uma verdadeira “epidemia” de cesárea, associada a índices extremamente elevados de nascimentos pré-termo, alguns ocorrendo sem razão médica aparente. Como já discutimos em publicação anterior! Porém, a etiologia do nascimento pré-termo não é bem conhecida.

O parto pré-termo pode ser dividido de acordo com a idade gestacional em:
· Prematuridade extrema, < 28 semanas (5%).
· Prematuridade grave, 28-30 semanas (15%).
· Prematuridade moderada, 31-33 semanas (20%).
· Prematuridade quase-termo, 34-36 semanas (60%).

Figura 3.

Fatores de risco
· História reprodutiva de PPT anterior e de reprodução assistida.
· Hemorragia anteparto, rotura prematura das membranas, anomalias uterinas, mioma, conização do colo (notadamente aquelas feitas com lâmina de bisturi frio).
· Fatores fetais/intrauterinos: prenhez gemelar, anomalias fetais, polidrâmnio.
· Infecção: corioamnionite, bacteriúria, vaginose bacteriana com história de PPT.
· Fatores demográficos: baixo-nível socioeconômico e educacional, etnicidade (em países desenvolvidos), idade materna 35 anos.
· Hábitos de vida: tabagismo, uso de drogas ilícitas, estresse, abuso físico.
· Assistência pré-natal deficiente, baixo peso pré-gravídico e ganho de peso inadequado na gravidez. Os diagnósticos mais frequentemente associados ao parto pretermo indicado são as desordens hipertensivas, hemorragia e sofrimento fetal agudo e crônico (CIUR).

Quais as condições para que o feto seja viável?

A viabilidade é definida como a capacidade dos fetos de sobreviver no meio extra-uterino (i.e., após um parto prematuro). Geralmente, fetos pesando menos de 500g ao nascimento não sobrevivem. Muitas crianças nascem a termo com peso baixo por causa de retardo do crescimento intra-uterino. Entretanto, alguns fetos que nascem pesando menos de 500g poderão sobreviver se receberem cuidados adequados no pós-parto; estes fetos são denominados crianças com peso extremamente baixo ao nascimento, ou crianças imaturas. A maioria dos fetos que nascem pesando entre 1.500 e 2.500g sobrevive, mas pode apresentar complicações; são as chamadas crianças prematuras. A prematuridade é uma das causas mais comuns de morbidade morte perinatal.

Para o feto adquirir tal viabilidade é fundamental que ele desenvolva algumas características e estruturas, além da maturação básica dos sistemas fundamentais. Estruturas como verniz caseosa, lanugo e surfactante.

A verniz caseosa consiste em um material gorduroso, com aspecto de queijo. Esta é constituída por um material gorduroso secretado pelas glândulas sebáceas do feto e por células mortas da epiderme. A verniz caseosa protege a delicada pele do feto contra abrasões, rachaduras e endurecimento que poderia resultar em exposição ao líquido amniótico.

Figura 4. Verniz caseosa.


Geralmente, o corpo do feto com 20 semanas já está coberto por uma penugem muito delicada, o lanugo, que ajuda a manter a verniz caseosa presa à pele.

Enquanto isso, com 24 semanas, as células epiteliais secretoras (pneumócitos tipo II) dos septos interalveolares do pulmão começam a secretar o surfactante, um líquido tensoativo que mantém abertos os alvéolos pulmonares em desenvolvimento. (Detalhes sobre surfactante em publicação anterior.)

Figura 5. Exemplo de lípideos.



Ficou curioso sobre prematuridade? O que acha de acompanhar o primeiro ano de vida de um prematuro?

Assista! É emocionante...






Pois é isso, pessoal! Parto é algo muito rico em informações, e estaremos sempre trazendo novos assuntos pertinentes ao nosso tema.


Até a próxima!

Referências

MOORE K. L.; PERSAUD T. V. N. Embriologia Clínica. 7ed. Elservier: Rio de Janeiro, 2004.

MONTENEGRO, C. A. B.; REZENDE FILHO, J.  Descolamento prematuro da placenta. In: 
MONTENEGRO, C. A. B.; REZENDE FILHO, J. Rezende obstetrícia. 11.ed. Rio de Janeiro: Guanabara 

Koogan, 2010. p.409-415. 

BETTIOL. H.; Epidemiologia do nascimento pré-termo: tendências atuais. Departamento de Puericultura e Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. 2010.

segunda-feira, 25 de maio de 2015


E aí, galera! 

Voltamos com mais uma postagem show para vocês! Acontece em Parnaíba, essa semana, do dia 22/05/15 ao dia 28/05/15, nas Unidades Básicas de Saúde, a IV Semana do Bebê! E como essa temática é bem casada com nosso blog, vamos explicar o que esse evento.

Figura 1.

A Semana do Bebê é uma estratégia de mobilização social apoiada pelo UNICEF e tem como objetivo tornar o direito à sobrevivência e ao desenvolvimento de crianças de até 6 anos prioridade na agenda dos municípios brasileiros. 
A ideia é incentivar os municípios a realizar, durante uma semana, uma grande mobilização em favor da primeira infância.
Cada município define a data e as atividades a serem realizadas, tais como: oficinas, cursos, palestras e atividades artísticas e culturais.

Figura 2.

Os seis primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento integral de meninas e meninos. Nessa fase da vida, a criança desenvolve grande parte do potencial cognitivo que terá quando adulto. Por isso, representa uma janela de oportunidades. A atenção integral nessa faixa etária tem impacto decisivo nos processos de aprendizagem e de construção de relações sociais, fatores que influenciarão a vida afetiva, profissional e social.

Figura 3.

Aqui em Parnaíba, 20.893 crianças já participaram do evento, sendo 8.991 de 0 a 4 anos e 11.902 de 5 a 9 anos.
E o que a gente na bioquímica ganha com isso?

Figura 4.

É de interesse de todos que fatores emocionais, sociais, fisiológicos e culturais terão reflexos estruturais, químicos e elétricos em um cérebro altamente plástico e mutável como é encontrado nas crianças.
O social(meio), por exemplo, através de repetição ou intensidade, interfere no biológico, formando memória e resultando o psíquico, que é a somatória de vivências e experiências “cristalizadas” nos neurônios e em sua fisiologia.

Figura 5.

O encéfalo, através de complexa atividade elétrica, é capaz de processar diversos tipos de informação, que são reconhecidos, memorizados e recuperados. A base do processamento é dada pela atividade de neurônios, que se comunicam principalmente através de eventos discretos no tempo: os potenciais de ação.

Figura 6.

No entanto, as intensidades das conexões entre esses neurônios não são totalmente acessíveis, o que, além de outros fatores, impossibilita um entendimento mais completo do funcionamento da rede neural. Desse modo, a neurociência computacional tem papel importante para o entendimento dos processos envolvidos no encéfalo, em vários níveis de detalhamento.

Figura 7.

Dentro da área da neurociência computacional se estuda a aquisição e recuperação de memórias dadas por padrões espaciais, onde o espaço é definido pelos neurônios da rede simulada. Primeiro utiliza-se o conceito da regra de Hebb para construir redes de neurônios com conexões previamente definidas por esses padrões espaciais. Se as memórias são armazenadas nas conexões entre os neurônios, então a inclusão de um período de aprendizado torna necessária a implementação de plasticidade nos pesos sinápticos. As regras de modificação sináptica que permitem memorização (Hebbianas) geralmente causam instabilidades na atividade dos neurônios. Com isso desenvolveram-se regras de plasticidade homeostática capazes de estabilizar a atividade basal de redes de neurônios.

Espero que tenham gostado do post! Até a próxima





DOMINGUES, MARIA APARECIDA. Desenvolvimento e aprendizagem o que o cérebro tem a ver com isso. Editora da ULBRA, 2007.
http://www.semanadobebe.org.br/entenda

AGNES, Everton João. Estabilidade de atividade basal, recuperação e formação de memórias em redes de neurônios. 2014. Tese de Doutorado. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Dor do parto: uma questão farmacológica?


Hoje falaremos sobre uma notícia que saiu há pouco tempo e que tem preocupado muita gente. O aumento do número de cesáreas no Brasil tem sido classificado pela OMS como uma epidemia. Há vários fatores que contribuem para este aumento, como a cesárea programada em que a gestante marca dia e horário para ter o bebê, ao contrário do parto vaginal que pode ocorrer a qualquer dia e horário e demanda mais tempo; mas com certeza, um dos maiores fatores que contribuem para o seu aumento é a falta de assistência obstétrica para a mãe, que não é preparada psicologicamente para o parto. Além do medo e da insegurança, aparentemente  mais estimulados que combatidos.
Tendo em vista este constante aumento do número de cesáreas e os cuidados que a equipe médica tem que prestar à mãe, tem-se a Política Nacional de Humanização do Parto que visa transformar este quadro. E um dos pontos a serem observados é o uso de fármacos no alívio da dor, pois estes fármacos podem alterar de muitas formas o funcionamento do já debilitado organismo materno tendo também a possibilidade de atravessar a barreira placentária e afetar o bebê.
“Promover o parto e o nascimento humanizados, ofertando métodos de alívio da dor e possibilidade de partos na posição vertical.” (BRASIL, 2014)

Hoje falaremos especificamente sobre a ação dos anestésicos.

Conceito
 “Supressão artificial por meio de anestésicos da sensibilidade em alguma parte (anestesia local, anestesia regional) ou em todo o corpo (anestesia geral), com mais frequência em casos de intervenção cirúrgica.” (SILVA, 2011)

Mecanismo de ação
Os anestésicos locais bloqueiam a ação de canais iônicos na membrana celular neuronal, impedindo a neurotransmissão do potencial de ação. A forma ionizada do anestésico local liga-se de modo específico aos canais de sódio, inativando-os e impedindo a propagação da despolarização celular. Porém, a ligação específica ocorre no meio intracelular, por isso é necessário que o anestésico local em sua forma molecular ultrapasse a membrana plasmática para então bloquear os canais de sódio. É provável que exista um segundo mecanismo de ação dos anestésicos locais (AL), que envolve a inativação dos canais de sódio pela incorporação de moléculas de AL na membrana plasmática (teoria da expansão da membrana plasmática). Esse segundo mecanismo de ação seria gerado pela forma não ionizada dos anestésicos locais, atuando de fora para dentro. As fibras nervosas possuem sensibilidades diferentes aos anestésicos locais, sendo as fibras pequenas mais sensíveis que as grandes, e as fibras mielinizadas são bloqueadas mais rapidamente que as não mielinizadas de mesmo diâmetro. O bloqueio das fibras nervosas ocorre gradualmente, iniciado com a perda de sensibilidade à dor, à temperatura, ao toque, à propriocepção e finalmente perda do tônus muscular esquelético. Por essa razão, os indivíduos podem ainda sentir o toque no momento em que a dor já está ausente após aplicação do anestésico local.

Mecanismo de ação dos anestésicos locais.


Cuidado Obstétricos
Os anestésicos atuam sobre o sistema nervoso autônomo (SNA), logo fármacos com ação anestésica também causam efeitos adversos sobre o SNA, como por exemplo a hipotensão que pode ocorrer pelo bloqueio simpático ocasionado pelos anestésicos. Sabe-se também que gestação causa um desequilíbrio hemodinâmico na mulher. Logo, ações preventivas devem ser tomadas antes mesmo da administração do fármaco. Os efeitos centrais incluem parestesia nos lábios, dificuldade na articulação das palavras, redução do nível de consciência e convulsões. As múltiplas alterações em canais iônicos cardíacos, podem levar à arritmias e redução da contratilidade miocárdica.
“Em anestesia obstétrica, devemos ter especial atenção ao fluxo sanguíneo uteroplacentário. Os agentes anestésicos intravenosos apresentam efeitos variáveis sobre a circulação uteroplacentária. Barbitúricos e propofol causam pequenas reduções na circulação uterina devido à redução leve ou moderada da pressão sanguínea materna. Cetamina em doses baixas e etomidato provocam efeitos discretos sobre o sistema circulatório. Entretanto, benzodiazepínicos e agentes voláteis, em doses de indução anestésica, reduzem de forma significativa a circulação placentária. Administração inadvertida de anestésicos locais intravenosos, como lidocaína, reduz significativamente o fluxo uterino e deve ser evitada.” (SCHMIDT, 2009)

Fórmula molecular de barbitúrico
Fórmula molecular de etomidato
Fórmula molecular de propofol
Fórmula molecular de cetamina


Métodos não farmacológicos para alivio da dor.
Os Métodos Não Farmacológicos (MNFs) para alivio da dor são técnicas de relaxamento e cuidado que visam dissipar a sensação de dor através de estímulos sensoriais e que não envolvem tecnologia sofisticada, sendo possível ser realizado até pelo acompanhante da mulher, desde que tenha uma mínima instrução. Os principais métodos são:
● Hidroterapia
A hidroterapia refere-se ao banho de imersão ou de aspersão. É considerada uma alternativa para o conforto da mulher em trabalho de parto, já que oferece alívio sem interferir na progressão do parto e sem trazer prejuízos ao recém-nascido. É apontada como uma medida não farmacológica, na qual a parturiente imerge em água morna (imersão) para relaxamento e alívio do desconforto.

● Deambulação e mudanças de posição
A deambulação e as mudanças de posição durante o trabalho de parto constituem outra medida de conforto extremamente útil.

● Exercícios de relaxamento
Os exercícios de relaxamento têm como objetivo permitir que as mulheres reconheçam as partes do corpo e suas sensações, principalmente as diferenças entre relaxamento e contração, assim como as melhores posições para relaxar e utilizar durante o trabalho de parto.

● Técnicas de respiração
As técnicas de respiração trouxeram outra forma de combater as dores do parto, por exemplo, a ginástica respiratória vem sendo desencadeante do equilíbrio no trabalho de parto, o controle da respiração passa pelo estabelecimento de um reflexo condicionado, contração/respiração, trazendo à tona a respiração “cachorrinho” e buscando a hiperventilação durante as contrações, a qual é capaz de oxigenar o feto.

● Massagem
A massagem é uma terapêutica simples, de baixo custo, que associada à respiração, posição e deambulação, pode ser de grande valia no processo de nascimento.


Enfim pessoal por hoje é isso, espero ter trago boas e novas informações a vocês. Deixem nos comentários suas impressões. Até semana que vem
















Referências
Brasil. Ministério da Saúde. Humanização do parto e do nascimento / Ministério da Saúde. Universidade Estadual do Ceará. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 465 p.: il. – (Cadernos HumanizaSUS; v. 4. Disponível em <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno_humanizasus_v4_humanizacao_parto.pdf>. Acesso em 22 abr. 2015

Silva, Carlos Roberto Lyra da. Silva, Roberto Carlos Lyra da. Viana, Dirce Laplaca. Compacto dicionário ilustrado de saúde. – 6. ed. ver. e atual. – São Caetano do Sul.SP: Yendis Editora, 2011.

Schmidt , Sérgio Renato Guimarães; Schmidt, André Prato; Schmidt, Adriana Prato. Anestesia e analgesia de parto. Arq. Bras. Cardiol. vol.93 no.6 supl.1 São Paulo Dec. 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0066-782X2009001300019&script=sci_arttext Acesso em 12 de maio de 2015.



terça-feira, 5 de maio de 2015

Olá pessoal! 

Bem-vindos a mais uma semana na bioquímica do parto humanizado. Hoje iremos abordar um assunto polêmico, ético e questão de vida ou morte para algumas pessoas: o transplante de medula óssea e sangue de cordão umbilical.

O transplante de medula óssea (TMO), primeiramente, consiste na infusão intravenosa de células progenitoras hematopoiéticas com o objetivo de restabelecer a função medular nos pacientes com medula óssea danificada. E esse procedimento podem ser feitos de três formas:
·       Transplante alogênico, em que o paciente recebe a medula de uma outra pessoa, que pode ser algum familiar ou não;
·       Transplante singênico, em que o doador é um irmão gêmeo idêntico(portanto, a mais rara).
·       Transplante autogênico, que utiliza as células do próprio paciente coletadas previamente.


Figura 1. Transplante de medula.


As células progenitoras hematopoiéticas podem ser coletadas diretamente da crista ilíaca, do sangue periférico ou mais recentemente do sangue de cordão umbilical(SCU). A primeira experiência bem sucedida no uso do sangue de cordão umbilical como fonte de células para reconstituição de medula óssea ocorreu em 1988, quando a Dra. Eliane Gluckman, na França, tratou com sucesso um paciente portador de anemia de Fanconi, utilizando o sangue do cordão umbilical de seu irmão para reconstituir a função medular após quimioterapia mieloablativa. O sangue de cordão umbilical é coletado logo após o nascimento da criança, sendo posteriormente processado e mantido congelado até a infusão.

Figura 2. Coleta

A coleta, o processamento, o congelamento e a utilização do SCU seguem os seguintes passos:
·       Logo após o nascimento, o cordão é clampeado pelo obstetra e entregue à enfermeira responsável pela coleta, que vai puncionar a veia umbilical com uma agulha conectada a uma bolsa de coleta. A placenta é colocada em um suporte estéril mais elevado que a bolsa e o sangue flui por gravidade;
·        A bolsa é posteriormente enviada ao banco de sangue para processamento. A gestante é entrevistada e colhe-se amostra de sangue para realização de exames sorológicos maternos;
·   No banco de sangue, é colhida da bolsa uma amostra de sangue para tipagem HLA, exames sorológicos e bacteriológicos e contagem das células; posteriormente, a bolsa é processada e congelada em nitrogênio líquido;
·         Quando todos os resultados ficam prontos, a bolsa torna-se disponível para o uso; havendo problemas com os exames, o sangue pode ser descartado;
·      O banco de dados do banco de sangue de cordão umbilical é alimentado com todas as informações referentes às bolsas. Atualmente são feitos transplantes quando o número de antígenos HLA incompatíveis é igual ou menor que 2 e a quantidade de células da bolsa é superior a 2 X 107 células por quilo de peso do receptor;
·         Quando um paciente encontra uma unidade adequada de SCU, esta unidade é enviada para o serviço que realizará o transplante, acondicionada em um botijão especial que contém nitrogênio líquido.

Figura 3.


O SCU possui propriedades muito interessantes: menor probabilidade de induzir doença enxerto contra hospedeiro(DECH) aguda e crônica, mesmo quando a tipagem HLA(human leukocyte antigen) não é totalmente compatível com a do receptor, aparentemente mantém o efeito enxerto contra leucemia e apresenta menor índice de infecções por vírus como EBV(Vírus Epstein Barr) e CMV92(Citomegalovírus 92).
Portanto, o sangue do cordão umbilical deve ser meio de salvar vidas cada vez mais utilizado. A compatibilidade tem que ser bem maior, é verdade; mas nada nos impede de tentar e usar todos os meios possíveis e cientificamente comprovados para reduzir o número de mortes por danos na medula óssea.


DE CASTRO JR, Cláudio Galvão; GREGIANIN, Lauro José; BRUNETTO, Algemir Lunardi. Transplante de medula óssea e transplante de sangue de cordão umbilical em pediatria. J Pediatr (Rio J), v. 77, n. 5, p. 345-60, 2001.
Childs R, Chernoff A, Contentin N, Bahceci E, Schrump D, Leitman S, et al. Regression of metastatic renal-cell carcinoma after nonmyeloablative allogeneic peripheral-blood stem-cell transplantation. New Engl J Med 2000; 343:750-8.

Armitage JO. Bone Marrow Transplantation. N Engl J Med 1994; 330: 827-38