quarta-feira, 13 de maio de 2015

Dor do parto: uma questão farmacológica?


Hoje falaremos sobre uma notícia que saiu há pouco tempo e que tem preocupado muita gente. O aumento do número de cesáreas no Brasil tem sido classificado pela OMS como uma epidemia. Há vários fatores que contribuem para este aumento, como a cesárea programada em que a gestante marca dia e horário para ter o bebê, ao contrário do parto vaginal que pode ocorrer a qualquer dia e horário e demanda mais tempo; mas com certeza, um dos maiores fatores que contribuem para o seu aumento é a falta de assistência obstétrica para a mãe, que não é preparada psicologicamente para o parto. Além do medo e da insegurança, aparentemente  mais estimulados que combatidos.
Tendo em vista este constante aumento do número de cesáreas e os cuidados que a equipe médica tem que prestar à mãe, tem-se a Política Nacional de Humanização do Parto que visa transformar este quadro. E um dos pontos a serem observados é o uso de fármacos no alívio da dor, pois estes fármacos podem alterar de muitas formas o funcionamento do já debilitado organismo materno tendo também a possibilidade de atravessar a barreira placentária e afetar o bebê.
“Promover o parto e o nascimento humanizados, ofertando métodos de alívio da dor e possibilidade de partos na posição vertical.” (BRASIL, 2014)

Hoje falaremos especificamente sobre a ação dos anestésicos.

Conceito
 “Supressão artificial por meio de anestésicos da sensibilidade em alguma parte (anestesia local, anestesia regional) ou em todo o corpo (anestesia geral), com mais frequência em casos de intervenção cirúrgica.” (SILVA, 2011)

Mecanismo de ação
Os anestésicos locais bloqueiam a ação de canais iônicos na membrana celular neuronal, impedindo a neurotransmissão do potencial de ação. A forma ionizada do anestésico local liga-se de modo específico aos canais de sódio, inativando-os e impedindo a propagação da despolarização celular. Porém, a ligação específica ocorre no meio intracelular, por isso é necessário que o anestésico local em sua forma molecular ultrapasse a membrana plasmática para então bloquear os canais de sódio. É provável que exista um segundo mecanismo de ação dos anestésicos locais (AL), que envolve a inativação dos canais de sódio pela incorporação de moléculas de AL na membrana plasmática (teoria da expansão da membrana plasmática). Esse segundo mecanismo de ação seria gerado pela forma não ionizada dos anestésicos locais, atuando de fora para dentro. As fibras nervosas possuem sensibilidades diferentes aos anestésicos locais, sendo as fibras pequenas mais sensíveis que as grandes, e as fibras mielinizadas são bloqueadas mais rapidamente que as não mielinizadas de mesmo diâmetro. O bloqueio das fibras nervosas ocorre gradualmente, iniciado com a perda de sensibilidade à dor, à temperatura, ao toque, à propriocepção e finalmente perda do tônus muscular esquelético. Por essa razão, os indivíduos podem ainda sentir o toque no momento em que a dor já está ausente após aplicação do anestésico local.

Mecanismo de ação dos anestésicos locais.


Cuidado Obstétricos
Os anestésicos atuam sobre o sistema nervoso autônomo (SNA), logo fármacos com ação anestésica também causam efeitos adversos sobre o SNA, como por exemplo a hipotensão que pode ocorrer pelo bloqueio simpático ocasionado pelos anestésicos. Sabe-se também que gestação causa um desequilíbrio hemodinâmico na mulher. Logo, ações preventivas devem ser tomadas antes mesmo da administração do fármaco. Os efeitos centrais incluem parestesia nos lábios, dificuldade na articulação das palavras, redução do nível de consciência e convulsões. As múltiplas alterações em canais iônicos cardíacos, podem levar à arritmias e redução da contratilidade miocárdica.
“Em anestesia obstétrica, devemos ter especial atenção ao fluxo sanguíneo uteroplacentário. Os agentes anestésicos intravenosos apresentam efeitos variáveis sobre a circulação uteroplacentária. Barbitúricos e propofol causam pequenas reduções na circulação uterina devido à redução leve ou moderada da pressão sanguínea materna. Cetamina em doses baixas e etomidato provocam efeitos discretos sobre o sistema circulatório. Entretanto, benzodiazepínicos e agentes voláteis, em doses de indução anestésica, reduzem de forma significativa a circulação placentária. Administração inadvertida de anestésicos locais intravenosos, como lidocaína, reduz significativamente o fluxo uterino e deve ser evitada.” (SCHMIDT, 2009)

Fórmula molecular de barbitúrico
Fórmula molecular de etomidato
Fórmula molecular de propofol
Fórmula molecular de cetamina


Métodos não farmacológicos para alivio da dor.
Os Métodos Não Farmacológicos (MNFs) para alivio da dor são técnicas de relaxamento e cuidado que visam dissipar a sensação de dor através de estímulos sensoriais e que não envolvem tecnologia sofisticada, sendo possível ser realizado até pelo acompanhante da mulher, desde que tenha uma mínima instrução. Os principais métodos são:
● Hidroterapia
A hidroterapia refere-se ao banho de imersão ou de aspersão. É considerada uma alternativa para o conforto da mulher em trabalho de parto, já que oferece alívio sem interferir na progressão do parto e sem trazer prejuízos ao recém-nascido. É apontada como uma medida não farmacológica, na qual a parturiente imerge em água morna (imersão) para relaxamento e alívio do desconforto.

● Deambulação e mudanças de posição
A deambulação e as mudanças de posição durante o trabalho de parto constituem outra medida de conforto extremamente útil.

● Exercícios de relaxamento
Os exercícios de relaxamento têm como objetivo permitir que as mulheres reconheçam as partes do corpo e suas sensações, principalmente as diferenças entre relaxamento e contração, assim como as melhores posições para relaxar e utilizar durante o trabalho de parto.

● Técnicas de respiração
As técnicas de respiração trouxeram outra forma de combater as dores do parto, por exemplo, a ginástica respiratória vem sendo desencadeante do equilíbrio no trabalho de parto, o controle da respiração passa pelo estabelecimento de um reflexo condicionado, contração/respiração, trazendo à tona a respiração “cachorrinho” e buscando a hiperventilação durante as contrações, a qual é capaz de oxigenar o feto.

● Massagem
A massagem é uma terapêutica simples, de baixo custo, que associada à respiração, posição e deambulação, pode ser de grande valia no processo de nascimento.


Enfim pessoal por hoje é isso, espero ter trago boas e novas informações a vocês. Deixem nos comentários suas impressões. Até semana que vem
















Referências
Brasil. Ministério da Saúde. Humanização do parto e do nascimento / Ministério da Saúde. Universidade Estadual do Ceará. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 465 p.: il. – (Cadernos HumanizaSUS; v. 4. Disponível em <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno_humanizasus_v4_humanizacao_parto.pdf>. Acesso em 22 abr. 2015

Silva, Carlos Roberto Lyra da. Silva, Roberto Carlos Lyra da. Viana, Dirce Laplaca. Compacto dicionário ilustrado de saúde. – 6. ed. ver. e atual. – São Caetano do Sul.SP: Yendis Editora, 2011.

Schmidt , Sérgio Renato Guimarães; Schmidt, André Prato; Schmidt, Adriana Prato. Anestesia e analgesia de parto. Arq. Bras. Cardiol. vol.93 no.6 supl.1 São Paulo Dec. 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0066-782X2009001300019&script=sci_arttext Acesso em 12 de maio de 2015.



5 comentários:

  1. Grupo J

    Achei muito válido esse destaque para a importância dos métodos não-farmacológicos para evitar a dor do parto. Um muito legal que não foi citado na postagem é a acupuntura. Apesar de poucos, alguns estudos relacionam o uso da acupuntura a uma redução do uso de fórceps ou extrator à vácuo durante o parto, relacionando essas técnicas a um índice menor de cesarianas. A desvantagem é que sua esse procedimento requer um profissional muito bem treinado, e poucos médicos ou parteiras têm esse tipo de treinamento.
    Outra abordagem interessante é a da médica Barbara Muramaya, diretora da Clínica Gergin, em São Paulo. Em entrevista a um site voltado para o público gestante, ela afirmou que o medo pode piorar a dor do parto. "Se a mulher chegar assustada para o momento de dar à luz e não souber como vai ser, ela vai ter mais dor, por estar tensa diante do desconhecido", afirmou. Por isso nós devemos estar sempre bem informadas, para que na época da nossa gravidez estarmos informadas sobre tudo que passaremos nesse momento.




    Fontes: http://www.minhavida.com.br/familia/galerias/4390-futuras-mamaes-podem-usar-algumas-tecnicas-para-reduzir-a-dor-de-parto/2
    http://brasil.babycenter.com/a25008169/m%25C3%25A9todos-naturais-para-aliviar-a-dor-do-parto#ixzz3a8rkdlKB

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  2. Postagem muito relevante! Realmente nunca tinha atentado para o efeito que alguns anestésicos têm sobre a circulação uterina, que podem prejudicar o bebê e o trabalho de parto. Muito importante temor informações para repassarmos às nossas futuras pacientes e às gestantes que conhecemos mesmo durante nossa formação.

    Inclusive, a técnica de respiração lenta e compassada contribui para a saturação adequada reduz a chance de alcalose respiratória ( que pode ser causada pela respiração acelerada do nervosismo) que reduz a oferta de oxigênio ao bebê. O foco na respiração também reduz o nervosismo, reduzindo a liberação de epinefrina e favorecendo a de endorfina e ocitocina (olha ela aqui de novo!).

    Fonte: Iara BÖING, Iara; SPERANDIO, Fabiana Flores; SANTOS, Gilmar Moraes. Uso de técnica respiratória para analgesia no parto. Revista FEMINA. Janeiro de 2007, Vol 35, nº 1. P. 41-46.

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  3. Grupo L:
    Muito interessante o uso de técnicas não farmacológicas na diminuição da dor no parto! E elas também têm tudo a ver com bioquímica... Quando estamos em uma situação de estresse (como no parto) o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal é ativado e os níveis de hormônio liberador de corticotrópicos (ACTH), de corticotrópicos (CTH) e cortisol são aumentados no plasma. O CRH é um peptídeo que tem a propriedade de estimular as células corticotróficas hipofisárias a expressarem o gene da pró-opiomelanocortina (POMC), precursor do ACTH. Além desse peptídeo, a POMC dá origem à β-lipotrofina, que é processada em γ-lipotropina e
    uma família de opióides endógenos, entre as quais a β-endorfin. A β-endorfina está envolvida na modulação da dor, sendo considerada um sistema de analgesia endógeno. Um estudo mostra que na prática obstétrica, observa-se que a ansiedade e a dor da parturiente parecem ser amenizadas mediante utilização de métodos de preparo para o parto, como os métodos mostrados no post, e que os níveis plasmáticos de β-endorfina são maiores em mulheres com preparo pré-parto. Assim, esses métodos são realmente eficazes no combate à dor e devem ser muito utilizados, em detrimento de medicações, que podem, muitas vezes, ser prejudiciais.

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  4. GRUPO E

    Muito interessante a postagem! É realmente muito legal conhecer estratégias não farmacológicas na modulação da nocicepção e, consequentemente, da dor. Técnicas de respiração para o parto normal são importantes, tanto para a mãe, aliviando parte do estresse fisiológico do corpo como comentado pelo Grupo L, mas é imprescindível, sobretudo, para o bebê que está sujeito ao estresse de nascer e precisa de uma boa quantia de oxigênio, ainda dependente do corpo da mãe. Ou seja, uma má respiração durante trabalho de parto pode ser desconfortável (e até prejudicial) para a mãe que pode sentir formigamentos, tontura... quanto para o feto, que pode ficar com baixo suprimento de O2 e afetar os sistemas fisiológicos dele.

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