Hoje falaremos sobre uma notícia que saiu há pouco tempo e que
tem preocupado muita gente. O aumento do número de cesáreas no Brasil tem sido
classificado pela OMS como uma epidemia. Há vários fatores que contribuem para
este aumento, como
a cesárea programada em que a gestante marca dia e horário para ter o bebê, ao
contrário do parto vaginal que pode ocorrer a qualquer dia e horário e demanda mais
tempo; mas com certeza, um dos maiores fatores que contribuem para o seu
aumento é a falta de assistência obstétrica para a mãe, que não é preparada psicologicamente para o parto. Além do medo e da insegurança, aparentemente
mais estimulados que combatidos.
Tendo em vista este constante aumento do número de
cesáreas e os cuidados que a equipe médica tem que prestar à mãe, tem-se a Política Nacional de Humanização do Parto
que visa transformar este quadro. E um dos pontos a serem observados é o uso de fármacos no alívio da dor, pois estes
fármacos podem alterar de muitas formas o funcionamento do já debilitado
organismo materno tendo também a possibilidade de atravessar a barreira
placentária e afetar o bebê.
“Promover o parto e o nascimento humanizados, ofertando métodos de
alívio da dor e possibilidade de partos na posição vertical.” (BRASIL, 2014)
Hoje falaremos especificamente sobre a ação dos anestésicos.
Conceito
“Supressão
artificial por meio de anestésicos da sensibilidade em alguma parte (anestesia
local, anestesia regional) ou em todo o corpo (anestesia geral), com mais
frequência em casos de intervenção cirúrgica.” (SILVA, 2011)
Mecanismo de ação
Os anestésicos locais bloqueiam a ação de canais
iônicos na membrana celular neuronal, impedindo a neurotransmissão do potencial
de ação. A forma ionizada do anestésico local liga-se de modo específico aos
canais de sódio, inativando-os e impedindo a propagação da despolarização
celular. Porém, a ligação específica ocorre no meio intracelular, por isso é necessário
que o anestésico local em sua forma molecular ultrapasse a membrana plasmática
para então bloquear os canais de sódio. É provável que exista um segundo
mecanismo de ação dos anestésicos locais (AL), que envolve a inativação dos
canais de sódio pela incorporação de moléculas de AL na membrana plasmática
(teoria da expansão da membrana plasmática). Esse segundo mecanismo de ação
seria gerado pela forma não ionizada dos anestésicos locais, atuando de fora
para dentro. As fibras nervosas possuem sensibilidades diferentes aos
anestésicos locais, sendo as fibras pequenas mais sensíveis que as grandes, e
as fibras mielinizadas
são bloqueadas mais rapidamente que as não mielinizadas de mesmo diâmetro. O bloqueio das fibras nervosas
ocorre gradualmente, iniciado com a perda de sensibilidade à dor, à
temperatura, ao toque, à propriocepção e finalmente perda do tônus muscular esquelético. Por essa razão, os indivíduos podem ainda sentir o toque no momento
em que a dor já está ausente após aplicação do anestésico local.
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Mecanismo de ação dos anestésicos locais. |
Cuidado Obstétricos
Os anestésicos atuam sobre o sistema nervoso autônomo
(SNA), logo fármacos com ação anestésica também causam efeitos adversos sobre o
SNA, como por exemplo a hipotensão que pode ocorrer pelo bloqueio simpático
ocasionado pelos anestésicos. Sabe-se também que gestação causa um
desequilíbrio hemodinâmico na mulher. Logo, ações preventivas devem ser tomadas antes mesmo da administração
do fármaco. Os efeitos centrais incluem parestesia nos lábios, dificuldade na
articulação das palavras, redução do nível de consciência e convulsões. As
múltiplas alterações em canais iônicos cardíacos, podem levar à arritmias e
redução da contratilidade miocárdica.
“Em anestesia obstétrica,
devemos ter especial atenção ao fluxo sanguíneo uteroplacentário. Os agentes
anestésicos intravenosos apresentam efeitos variáveis sobre a circulação
uteroplacentária. Barbitúricos e propofol causam pequenas reduções na
circulação uterina devido à redução leve ou moderada da pressão sanguínea
materna. Cetamina em doses baixas e etomidato provocam efeitos discretos sobre
o sistema circulatório. Entretanto, benzodiazepínicos e agentes voláteis, em
doses de indução anestésica, reduzem de forma significativa a circulação
placentária. Administração inadvertida de anestésicos locais intravenosos, como
lidocaína, reduz significativamente o fluxo uterino e deve ser evitada.”
(SCHMIDT, 2009)
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Fórmula molecular de barbitúrico |
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Fórmula molecular de etomidato |
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Fórmula molecular de propofol |
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Fórmula molecular de cetamina |
Métodos não farmacológicos
para alivio da dor.
Os
Métodos Não Farmacológicos (MNFs) para alivio da dor são técnicas de
relaxamento e cuidado que visam dissipar a sensação de dor através de estímulos
sensoriais e que não envolvem tecnologia sofisticada, sendo possível ser
realizado até pelo acompanhante da mulher, desde que tenha uma mínima
instrução. Os principais métodos são:
● Hidroterapia
A hidroterapia refere-se ao banho de imersão ou de
aspersão. É considerada uma alternativa para o conforto da mulher em trabalho
de parto, já que oferece alívio sem interferir na progressão do parto e sem
trazer prejuízos ao recém-nascido. É apontada como uma medida não
farmacológica, na qual a parturiente imerge em água morna (imersão) para
relaxamento e alívio do desconforto.
● Deambulação e
mudanças de posição
A deambulação e as mudanças de posição durante o
trabalho de parto constituem outra medida de conforto extremamente útil.
● Exercícios de
relaxamento
Os exercícios de relaxamento têm como objetivo
permitir que as mulheres reconheçam as partes do corpo e suas sensações,
principalmente as diferenças entre relaxamento e contração, assim como as
melhores posições para relaxar e utilizar durante o trabalho de parto.
● Técnicas de
respiração
As técnicas de respiração trouxeram outra forma de
combater as dores do parto, por exemplo, a ginástica respiratória vem sendo
desencadeante do equilíbrio no trabalho de parto, o controle da respiração
passa pelo estabelecimento de um reflexo condicionado, contração/respiração,
trazendo à tona a respiração “cachorrinho” e buscando a hiperventilação
durante as contrações, a qual é capaz de oxigenar o feto.
● Massagem
A massagem é uma terapêutica simples, de baixo custo,
que associada à respiração, posição e deambulação, pode ser de grande valia no
processo de nascimento.
Enfim
pessoal por hoje é isso, espero ter trago
boas e novas informações a
vocês.
Deixem
nos comentários suas impressões. Até semana que vem
Referências
Brasil. Ministério da Saúde. Humanização do parto e do
nascimento / Ministério da Saúde. Universidade Estadual do Ceará. – Brasília:
Ministério da Saúde, 2014. 465 p.: il. – (Cadernos HumanizaSUS; v. 4.
Disponível em <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno_humanizasus_v4_humanizacao_parto.pdf>.
Acesso em 22 abr. 2015
Silva, Carlos Roberto Lyra da. Silva, Roberto Carlos
Lyra da. Viana, Dirce Laplaca. Compacto dicionário ilustrado de saúde. – 6. ed.
ver. e atual. – São Caetano do Sul.SP: Yendis Editora, 2011.
Grupo J
ResponderExcluirAchei muito válido esse destaque para a importância dos métodos não-farmacológicos para evitar a dor do parto. Um muito legal que não foi citado na postagem é a acupuntura. Apesar de poucos, alguns estudos relacionam o uso da acupuntura a uma redução do uso de fórceps ou extrator à vácuo durante o parto, relacionando essas técnicas a um índice menor de cesarianas. A desvantagem é que sua esse procedimento requer um profissional muito bem treinado, e poucos médicos ou parteiras têm esse tipo de treinamento.
Outra abordagem interessante é a da médica Barbara Muramaya, diretora da Clínica Gergin, em São Paulo. Em entrevista a um site voltado para o público gestante, ela afirmou que o medo pode piorar a dor do parto. "Se a mulher chegar assustada para o momento de dar à luz e não souber como vai ser, ela vai ter mais dor, por estar tensa diante do desconhecido", afirmou. Por isso nós devemos estar sempre bem informadas, para que na época da nossa gravidez estarmos informadas sobre tudo que passaremos nesse momento.
Fontes: http://www.minhavida.com.br/familia/galerias/4390-futuras-mamaes-podem-usar-algumas-tecnicas-para-reduzir-a-dor-de-parto/2
http://brasil.babycenter.com/a25008169/m%25C3%25A9todos-naturais-para-aliviar-a-dor-do-parto#ixzz3a8rkdlKB
Postagem muito relevante! Realmente nunca tinha atentado para o efeito que alguns anestésicos têm sobre a circulação uterina, que podem prejudicar o bebê e o trabalho de parto. Muito importante temor informações para repassarmos às nossas futuras pacientes e às gestantes que conhecemos mesmo durante nossa formação.
ResponderExcluirInclusive, a técnica de respiração lenta e compassada contribui para a saturação adequada reduz a chance de alcalose respiratória ( que pode ser causada pela respiração acelerada do nervosismo) que reduz a oferta de oxigênio ao bebê. O foco na respiração também reduz o nervosismo, reduzindo a liberação de epinefrina e favorecendo a de endorfina e ocitocina (olha ela aqui de novo!).
Fonte: Iara BÖING, Iara; SPERANDIO, Fabiana Flores; SANTOS, Gilmar Moraes. Uso de técnica respiratória para analgesia no parto. Revista FEMINA. Janeiro de 2007, Vol 35, nº 1. P. 41-46.
Grupo L:
ResponderExcluirMuito interessante o uso de técnicas não farmacológicas na diminuição da dor no parto! E elas também têm tudo a ver com bioquímica... Quando estamos em uma situação de estresse (como no parto) o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal é ativado e os níveis de hormônio liberador de corticotrópicos (ACTH), de corticotrópicos (CTH) e cortisol são aumentados no plasma. O CRH é um peptídeo que tem a propriedade de estimular as células corticotróficas hipofisárias a expressarem o gene da pró-opiomelanocortina (POMC), precursor do ACTH. Além desse peptídeo, a POMC dá origem à β-lipotrofina, que é processada em γ-lipotropina e
uma família de opióides endógenos, entre as quais a β-endorfin. A β-endorfina está envolvida na modulação da dor, sendo considerada um sistema de analgesia endógeno. Um estudo mostra que na prática obstétrica, observa-se que a ansiedade e a dor da parturiente parecem ser amenizadas mediante utilização de métodos de preparo para o parto, como os métodos mostrados no post, e que os níveis plasmáticos de β-endorfina são maiores em mulheres com preparo pré-parto. Assim, esses métodos são realmente eficazes no combate à dor e devem ser muito utilizados, em detrimento de medicações, que podem, muitas vezes, ser prejudiciais.
GRUPO E
ResponderExcluirMuito interessante a postagem! É realmente muito legal conhecer estratégias não farmacológicas na modulação da nocicepção e, consequentemente, da dor. Técnicas de respiração para o parto normal são importantes, tanto para a mãe, aliviando parte do estresse fisiológico do corpo como comentado pelo Grupo L, mas é imprescindível, sobretudo, para o bebê que está sujeito ao estresse de nascer e precisa de uma boa quantia de oxigênio, ainda dependente do corpo da mãe. Ou seja, uma má respiração durante trabalho de parto pode ser desconfortável (e até prejudicial) para a mãe que pode sentir formigamentos, tontura... quanto para o feto, que pode ficar com baixo suprimento de O2 e afetar os sistemas fisiológicos dele.
Muito bom ;)
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