segunda-feira, 6 de abril de 2015

A ocitocina e sua relação com o parto humanizado.
A ocitocina foi o primeiro hormônio polipeptídico a ser sequenciado e sintetizado. Atualmente, esse polipeptídio na sua forma sintética é amplamente utilizado na prática obstétrica para induzir o parto.

A humanização do parto e do nascimento visa incentivar a participação da mulher e da família nestes momentos tão singulares nas suas vidas. Incentiva e recoloca a mulher como protagonista neste processo, e isso tem a ver com a redução de procedimentos desnecessários, especialmente na redução de cesáreas desnecessárias, como o uso indiscriminado da ocitocina, bem como estimular as boas práticas em neonatologia, o aleitamento materno, a formação de vínculo.

Figura 1. Vínculo.
Além de diretriz fundante para a humanização do parto e do nascimento, a vinculação é a tecnologia apropriada para o parto. Significa apoio e segurança para a mulher no momento do parto – apoio ao processo fisiológico do trabalho de parto: se não assegurada, o medo, a insegurança, a desinformação, as incertezas, as dúvida, a falta de apoio, as situações de estresse que interferem na liberação de hormônios importantes do processo do parto como a ocitocina endógena, ao contrário nessas situações há maior liberação de adrenalina, hormônio do medo, que compete com esta, dificultando todo o processo.

A ocitocina é um peptídeo formado por nove ácidos aminados. Seu nome sistemático é cisteina-tirosina-isoleucina-glutamina-asparagina-cisteina-prolina-leucina-glicina-amina (cys - tyr - ile -  gln -  asn -  cys -  pro - leu - gly - NH2) ou CYIQNCPLG-NH2. Sua fórmula é C43H66N12O12S2 e sua massa 1007,19 g.mol-1.

Figura 3. Estrutura da ocitocina. Ligação dissulfeto em destaque.

Na molécula de ocitocina pode-se observar a ligação dissulfeto entre os resíduos de cisteína, além das inúmeras ligações peptídicas.
A ocitocina é um peptídeo cíclico contendo 9 resíduos de ácidos aminados. Em sua molécula, encontramos diversos grupos amida (-CONH), que foram formados através das ligações peptídicas entre os ácidos aminados. Visto que o plasma sanguíneo é em grande parte composto por água, a ocitocina pode fazer ligações de hidrogênio através dos átomos de N, O e H e desta forma ser carregada. No entanto, ela não é exclusivamente carreada por solvatação no sangue. Existem proteínas carregadoras que também transportam a ocitocina no plasma sanguíneo.


A ocitocina é um hormônio produzido apenas em mamíferos e também age como um neurotransmissor. Ela é produzida nos núcleos paraventriculares do hipotálamo (PVC) pelos neurônios magnocelulares, mas é liberada somente na neurohipófise. Ela tem receptores em diversos locais do corpo, incluindo o sistema cardiovascular. A ocitocina possui importância fundamental no trabalho de parto e na ejeção do leite. A ocitocina atua no trabalho de parto estimulando as contrações uterinas, bem como promove a dilatação do canal vaginal e afastamento da sínfise púbica. A sucção promovida pelos bebê na auréola do seio da mãe também promove a liberação da ocitocina, que tem como função ajudar na secreção do leite.

A ocitocina é secretada pela neuro-hipofise que especificamente causa contrações uterinas. Existem algumas evidências de que esse polipeptídio atue nessa processo: a musculatura aumenta seus receptores de ocitocina e, portanto, aumenta sua sensibilidade a uma determinada dose de ocitocina durante os últimos meses de gravidez; a taxa de secreção de ocitocina pela neuro-hipófise é consideravelmente maior no momento do parto; muito embora animais hipofisectomizados ainda consigam ter seus filhotes a termo, o trabalho departo é prolongado. Experimentos em animais indicam que a irritação ou dilatação do colo uterina, como ocorre durante o trabalho de parto, pode causar


Figura 2. Vincent du Vigneaud


A ocitocina foi o primeiro hormônio polipeptídico a ser sequenciado e sintetizado. Ela foi sintetizada por Vincent du Vigneaud e colaboradores nos anos de 1950, que também sintetizaram a vasopressina (ou hormônio antidiurético - ADH). Ela difere da vasopressina por dois resíduos de ácidos aminados. Por seus trabalhos, Vincent du Vigneaud recebeu o Prêmio Nobel de Química em 1955.

A ocitocina é preparada sinteticamente para evitar uma possível contaminação com vasopressina e outros pequenos polipeptídeos com atividade biológica, que estariam presentes caso ela fosse obtida de origem biológica.


A ocitocina é também muito conhecida como o hormônio da fidelidade. Estudos mostraram que o hormônio está relacionado ao comportamento social de diversos mamíferos, e pesquisadores sugerem que ele também nos influencia de modo semelhante. Parceiros estáveis e que são satisfeitos têm níveis de ocitocina mais alto. Este hormônio é liberado quando ocorre orgasmo durante o ato sexual em homens e mulheres. Há também especulações de ele facilita o vínculo emocional entre mãe e filho.
 
Figura 4.
A Dr. Kathleen Light, Universidade de Utah, realiza estudos sobre a ação ocitocina nas relações sociais. Ela descreveu a ocitocina como "o hormônio da ligação", conhecido por aumentar pares de união em 5% dos mamíferos que são monogâmicos. Ela explicou: "Se você está apaixonado e o contato se torna gratificante é porque vias do cérebro estão ativadas pela ocitocina". Entretanto, pouco estudos foram feitos com seres humanos. Em situações de estresses, a ocitocina ajuda a reduzir os níveis de cortisol e pressão arterial.

A neurocientista Angela Sirigu, diretora de pesquisa do Centro da Neurociência Cognitiva em Bron, na França, realizou estudos com adultos com síndrome de Asperger, ou autismo, e demonstrou que a inalação de ocitocina promoveu uma melhora em suas funções sociais. "Sob o efeito da ocitocina, os pacientes respondem mais fortemente aos outros e exibem afeto e comportamento social mais adequado, o que sugere um potencial terapêutico da ocitocina ".

Existem muitos métodos naturais pelos quais se libera um fluxo constante de ocitocina, evitando-se assim uso desnecessário de ocitocina sintética. Muitos deles requerem contato humano, tais como toques suaves e abraços. Canto, dança, exercícios, passar tempo com amigos, também tem se mostrado eficazes.

Referências:


GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. Rio de Janeiro. 10ª ed. Elsevier, 2002.

<<http://qnint.sbq.org.br/qni/popup_visualizarMolecula.php?id=GIDj94JSw3UbXbHfqjR2GewtL-19lwamuOROMWZcpI17WbSPa86rfFXmMr17d1qiz15B6jn2RclWp2SzNZC9WQ==>>

<<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno_humanizasus_v4_humanizacao_parto.pdf>>




12 comentários:

  1. Muito massa e muito completo o post!
    Queria só complementar os efeitos da ocitocina em pacientes com o autismo. Um estudo feito por cientistas da faculdade de medicina de Yale, nos EUA, também comprovou que uma única dose do hormônio ocitocina, administrada por meio de spray nasal, melhorou a atividade cerebral durante o processamento de informações sociais em crianças com transtornos do espectro do autismo, como vocês citaram, por exemplo, a Síndrome de Asperger. Nesse estudo, Os participantes, com idades entre 8 e 16,5, receberam aleatoriamente o spray de ocitocina ou um spray nasal sem princípio ativo durante uma tarefa que envolvia julgamentos sociais, e foi observado que a ocitocina normalizou temporariamente as regiões do cérebro responsáveis pelos déficits sociais observados em crianças com autismo, facilitando a chamada sintonia social.
    Parto Humanizado é alvo de muitas Políticas Sociais, logo mais também podemos postar algo sobre isso :)
    Acompanhem nosso blog!

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  2. Muito completo o post!

    Uma informação relevante é que, durante a gravidez, a hipófise pode aumentar entre 30% a 100% seu peso, para reforçar a produção de ocitocina e prolactina. Esse aumento junto com fatores de predisposição (auto-imunidade, por exemplo) e assistência pré-natal e pós-parto precária, podem causar a sindrome de Sheeran. Essa patologia ocasiona o hipoptuitarismo pós-parto, trazendo uma série de consequências graves pela diminuição, ou mesmo ausência, da produção de hormônios hipofisária.

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    1. Vi no artigo Aspectos diagnósticos e terapêuticos da síndrome de Sheehan, em https://www.google.com.br/url?sa=t&source=web&rct=j&ei=BRwtVYWWJcelgwSYkISwCQ&url=http://www.scielo.br/scielo.php%3Fpid%3DS0004-27302008000500020%26script%3Dsci_arttext&ved=0CBsQFjAA&usg=AFQjCNGehQUFZE9Ywb6sfh__53n3YBfQvw&sig2=qyqWbfd9RZpsVDsrgLbzqg

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  3. GRUPO L


    Muito interessante essa relação do parto humanizado com a estimulação da produção da ocitocina natural através do contato humano, da dança e da música, por exemplo. Nas últimas décadas, nota-se no Brasil uma cultura em que o parto, antes visto como um acontecimento natural, passou a ser tratado como evento médico. Atualmente, várias pesquisas têm mostrado que essas intervenções médicas invasivas são muitas vezes desnecessárias, e podem inclusive ser prejudiciais, como o uso da ocitocina sintética. Esta é usada para acelerar as contrações uterinas que pode ser indicada em condições específicas, por exemplo, quando o trabalho de parto está muito prolongado. O problema quanto à ocitocina sintética é que não há meios precisos para medir seus efeitos no útero e a ação de uma mesma dose da droga varia de uma mulher para outra, o que pode levar a aumento excessivo da frequência das contrações e prejuízos para o bebê. O uso da ocitocina sintética em dose inadequada pode levar a má oxigenação e dano cerebral no recém nascido, além de causar dor e sofrimento desnecessário à mulher.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Excelente postagem !
    A forma como a ocitocina atua na produção do leite também é muito interessante. Após o parto, nas 24 a 48 horas seguintes, ocorre a apojadura ou "descida do leite". Toda mulher está fisiologicamente preparada para amamentar. Tanto a produção quanto a ejeção do leite materno estão sujeitas a reflexos nervosos. A sucção do bebê estimula o mamilo a gerar impulsos que, ao atingirem a porção anterior da hipófise, fazem com que a glândula libere, na corrente sangüínea, a prolactina. Este hormônio ao alcançar os alvéolos mamilares, estimula as células secretoras a produzirem o leite. Ao mesmo tempo, durante a sucção, outro hormônio é estimulado, a ocitocina. Liberado da parte posterior da hipófise entra na corrente sangüínea e atinge os alvéolos, provocando a contração de suas células mioepiteliais, que promovem a expulsão do leite, acumulado no lúmen, para o sistema de canais até chegar aos depósitos de leite sob a aréola. A ausência do estímulo da sucção pode levar à interrupção da produção de leite.
    Referencia: Um olhar sobre a amamentação (http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?id_materia=3428&fase=imprime)

    Grupo A

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  6. GRUPO C

    Fala moçada, tudo certo? Bem, a postagem tá muito boa, como os colegas bem observaram, e muito completa. Para completar vou falar um pouco da Ocitocina - o hormônio do amor. Tirem as crianças da sala hehehe.
    Durante muito tempo os cientistas acreditavam que a ocitocina era um hormônio exclusivo feminino, e já tinham descoberto suas funções de contração uterina e lactação. Mas aí, descobriram ocitocina também nos homens. E agora, José?
    Agora que descobriram que a ocitocina é um neurotransmissor que está envolvido na vida sexual tanto de homens quanto de mulheres. Quando uma pessoa é tocada por uma pessoa sexualmente excitante, de imediato sobem os níveis de ocitosina, ocorre uma “fome epidérmica”, isto é necessidade de carinho. Durante um orgasmo verifica-se um nível muito alto de ocitocina, tendo mas mulheres em geral, níveis mais altos que os homens. Ao nível funcional no homem a libertação de ocitosina induz a contracção dos vasos da próstata, enquanto nas mulheres induz as contracções uterinas, ajudando assim o transporte dos espermatozóides para o óvulo. Estudos experimentais verificam que ela é a principal responsável, quanto ao âmbito da paixão/amor, por a preferência sexual, na formação de vinculo, na diminuição de agressividade e no aumento de comportamento de protecção, da doação e da entrega, responsável pela monogamia, promovendo assim a fidelidade.
    Enfim, muita ocitocina nos seus relacionamentos... por causa da fidelidade, pessoal! Não me interpretem mal hehehe. See U!

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  7. GRUPO J
    Postagem ótima!! Pesquisando mais acerca da ocitocina e as diversas formas que ela pode afetar nossos organismos, encontramos uma coisa bem interessante: a ocitocina aumenta a confiança que um ser humano tem em outro. Kosfeld et al. (2005) realizaram uma investigação que procurou comparar os comportamentos de confiança entre grupos de sujeitos que receberam uma dose de ocitocina (n=29) e sujeitos que receberam uma dose placebo (n=29). Para isto, administraram por via intranasal determinada quantidade de ocitocina e procederam ao “jogo da confiança” (trust experiment), no qual dois sujeitos contactam anonimamente com elevadas quantias de dinheiro. O investidor dá dinheiro ao segundo sujeito para que este possa aumentar os lucros, mas quer um, quer outro, pode, a qualquer momento, desonrar o contrato feito. Os resultados do estudo mostram que a ocitocina aumenta a confiança dos investidores consideravelmente – dos 29 sujeitos, 13 (45%) no grupo da ocitocina mostraram o nível máximo de confiança (fazendo apostas com o montante mais elevado), enquanto 6, (21%) dos 29 sujeitos do grupo placebo, mostraram o nível máximo de confiança. Tal estudo, porém, levanta a questão: a oxitocina ajuda as pessoas a ultrapassarem uma aversão ao risco ou o neuropeptídeo interfere nos comportamentos de confiança em interacções sociais? Essa dúvida foi desfeita em outro estudo realizado pelos mesmos pesquisadores, que concluíram que a oxitocina não aumenta a prontidão para enfrentar riscos em geral, mas, especificamente, aumenta a vontade individual de aceitar riscos sociais dentro de relações interpessoais. Espero ter acrescentado alguma coisa a respeito desse peptídeo multifuncional rsrsrs. Até a próxima, pessoal!!!

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    1. Fonte: http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/ref/v3n1/v3n1a13

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  8. GRUPO K

    Excelente sua abordagem sobre a temática!!! Muito interessante a forma como foi abordado!!! É importante conhecer a diferença da ação da ocitocina durante um parto humanizado e uma cesariana, sendo que a maior liberação de ocitocina durante o parte normal. É necessário um incentivo à realização do parto normal, em detrimento da cesariana, pois seu tempo de recuperação é menor e as chances de complicação para a gestante e o bebê também são diminuídas.

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  9. Como citado no post, é necessária a redução de procedimentos desnecessários. Porém, o abuso de medicalização e patologização dos processos naturais do trabalho de parto ainda é bastante visto na postura de muitos médicos, que é a violência obstétrica. Muitas mães, por exemplo, sequer precisariam de ocitocina sintética (o que pode gerar riscos de danos ao recém-nascido e à mãe, sendo que os riscos aumentam consideravelmente quando a dose é indiscriminada) durante o parto, porém o médico muitas vezes se impõe de tal forma que causa a perda de autonomia e da capacidade das mulheres de decidir livremente sobre seus corpos.

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