terça-feira, 28 de abril de 2015

Olá, prezado leitor!
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Boa leitura!

Cesárea agendada, uma questão de saúde pública

Maria planejou, durante a maior parte de sua gestação, um parto normal para seu filho. Porém, no último mês de gestação o médico explicou que o desejo de Maria não poderia ser atendido. O bebê era grande demais e a gestante não tinha condições físicas para se submeter a um parto normal. A cesárea foi marcada.

Casos como esse são mais comuns do que imaginamos nos consultórios brasileiros. As explicações dadas pelos obstetras também variam. Circular de cordão, bebê grande, bebê pequeno, mãe ‘velha demais’ ou ‘nova demais’, ‘magra demais ou gorda demais’ para parir. Enfim, as justificativas dadas são variadas, mas o destino da maioria das mulheres que usa os consultórios acaba sendo um só: o centro cirúrgico com uma cesárea agendada.

Figura 1.

Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), atualmente, no Brasil, o percentual de partos cesáreos chega a 84% na saúde suplementar. Na rede pública este número é menor, de cerca de 40% dos partos.

Pesquisa da Fiocruz divulgada no ano passado mostra que quase 70% das gestantes quer um parto normal, mas apenas 15% conseguem na rede privada em sua primeira gestação. Da segunda em diante, com uma cesárea anterior, esse índice pode ser ainda menor.
Na Inglaterra, por exemplo, a cesárea não é dada como opção. Ela só é feita em caso de alguma intercorrência na gestação. Apenas alguns poucos hospitais privados aceitam a cesárea marcada, mas os custos são pagos pela gestante, não pelo sistema de saúde.

A cesariana, quando não tem indicação médica, ocasiona riscos desnecessários à saúde da mulher e do bebê: aumenta em 120 vezes a probabilidade de o bebê ter síndrome da angústia respiratória e triplica o risco de morte da mãe. Cerca de 25% dos óbitos neonatais e 16% dos óbitos infantis no Brasil estão relacionados a prematuridade.

Figura 2. Cicatriz de cesárea.


A Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA) ou Síndrome do Desconforto Respiratório (SDR) do recém-nascido ou ainda Doença da Membrana Hialina (DMH) caracteriza-se por uma síndrome clínica, laboratorial e radiológica, que decorre da imaturidade pulmonar, da caixa torácica e da deficiência de surfactante.
Figura 3.
O surfactante endógeno

A composição do surfactante pulmonar é bastante semelhante entre as várias espécies de mamíferos estudadas até hoje. A maioria dos estudos de composição foi realizada analisando-se o conteúdo lipídico do surfactante obtido por lavado broncoalveolar (representando o surfactante presente no interior do alvéolo), associado ou não à homogeneização dos pulmões em soro fisiológico gelado, utilizando-se trituradores de tecidos (representando o surfactante intracelular, presente no interior dos pneumócitos tipo II). Desta forma, o surfactante possui dois componentes principais, com funções distintas: a porção lipídica e a porção protéica.

Figura 4. Composição do surfactante.

A função básica da porção fosfolipídica é a de atuar como componente redutor da tensão superficial do surfactante, a função dos lipídios neutros ainda não é bem determinada.
Se um bebê nasce de cesárea com 38 semanas, ele pode ter apenas 36 semanas pois os exames não são precisos e podem errar a data gestacional 15 dias para mais ou para menos, o que pode ser arriscado para a vida do bebê. Esses recém-nascidos precisam normalmente de internação maior por conta dos pulmões não estarem amadurecidos.

Figura 5. Alvéolo pulmonar.


 “Não podemos aceitar que as cesarianas sejam realizadas em função do poder econômico ou por comodidade. O normal é o parto normal. Não há justificativa de nenhuma ordem, financeira, técnica, científica, que possa continuar dando validade a essa taxa alta de cesáreas na saúde suplementar. Temos que reverter essa situação”, enfatizou o ministro da Saúde, Arthur Chioro, durante a coletiva realizada em janeiro deste ano. O ministro disse ainda que a ‘epidemia de cesáreas’ deve ser tratada como um problema de saúde pública. O Ministro apresentou também novas regras da ANS de incentivo ao parto normal.

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) publicou em janeiro de 2015 resolução que estabelece normas para estímulo do parto normal e a consequente redução de cesarianas desnecessárias na saúde suplementar. As novas regras ampliam o acesso à informação pelas consumidoras de planos de saúde, que poderão solicitar às operadoras os percentuais de cirurgias cesáreas e de partos normais por estabelecimento de saúde e por médico. As informações deverão estar disponíveis no prazo máximo de 15 dias, contados a partir da data de solicitação. Atualmente, 23,7 milhões de mulheres são beneficiárias de planos de assistência médica com atendimento obstétrico no país, público-alvo dessas medidas. As regras foram apresentadas pelo ministro da Saúde, Arthur Chioro, e os diretores da ANS nesta terça-feira (6/1), em Brasília, e passam a ser obrigatórias em 180 dias.
Figura 6.


Até a próxima, caro leitor!

Referências:

GUINSBURG R.; MIYOSHI M.H.; KOPELMAN B.I. Distúrbios respiratórios no período neonatal. São Paulo: Atheneu, 1998.

ANS publica resolução para estimular parto normal na saúde suplementar.Disponível em: <http://www.ans.gov.br/aans/noticias-ans/consumidor/2718-ministerio-da-saude-e-ans-publicam-resolucao-para-estimular-parto-normal-na-saude-suplementar>Acesso em 25 de abril de 2015.

BALOGH,Giovanna. Porque a cesárea agendada é questão de saúde pública. Disponível em: <http://maternar.blogfolha.uol.com.br/2015/01/14/porque-a-cesarea-agendada-e-questao-de-saude-publica/> Acesso em 25 de abril de 2015
REBELLO,C.M. Surfactante pulmonar: composição, função e metabolismo.

Acesso em: 26 de março de 2015.

8 comentários:

  1. Excelente postagem!!! É realmente inadmissível que tantas mulheres passem por cesáreas, com risco de sequelas para ela e para o bebê, sem necessidade. Além das consequências já citadas no texto, há também o fato de que a cesárea acarreta um aumento de custo de cerca de 50% em relação ao parto normal, que, se somados todos os partos realizados, representa um aumento bastante considerável para os cofres públicos. Além dos gastos com o processo cirúrgico, há também o gasto extra com a assistência aos bebês prematuros.
    Como falado durante a postagem, uma das consequências da cesárea para o bebê é o erro de cálculo e o nascimento prematuro, que pode causar a síndrome da angústia respiratória aguda. Os tratamentos com drogas ainda têm sua eficácia pouco reconhecida. O tratamento usual é a ventilação mecânica até que o pulmão se recupere e seja capaz de "respirar sozinho". Uma técnica que vem sendo utilizada é o enriquecimento do ar inspirado com NO, um importante vasodilatador produzido pelo endotélio vascular a partir de arginina. A inalação do NO melhora as trocas gasosas e diminui a pressão na artéria pulmonar, tendo efeito benéfico sobre a hipoxemia refratária e sobre as desigualdades na relação ventilação/perfusão. No entanto, ainda existem muitas dúvidas sobre a dose certa a ser usada nos pacientes.
    Aguardo as próximas postagens! :)
    referências: http://www.revistas.usp.br/rmrp/article/view/7712/9250
    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X1991000200003&script=sci_arttext&tlng=pt

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Ótima postagem !
    É muito importante informar que muitas das justificativas usadas pelos médicos são infundadas e o parto normal é na grande maioria das vezes a melhor opção para a mãe e para o bebê.
    Um dos frequentes problemas do recém nascido após uma cesárea desnecessária é, como vocês já disseram, a SARA (Síndrome da Angústia Respiratória Aguda). No neonatal os surfactantes são inadequados tanto na composição como quanto na quantidade dos surfactantes. Na composição normal apresenta, aproximadamente, 80% de fosfolipídios, 12% de proteínas e 8% de lipídios neutros. O fosfolipídio predominante é o dipalmitoilfosfatidilcolina (DPPC), este, sozinho, já consegue reduzir a tensão superficial alveolar, porém necessita da presença das proteínas e dos outros lipídios para facilitar sua adsorção a interface ar-líquido.

    Aguando a próxima postagem, pessoal !
    GRUPO A

    http://biomodel.uah.es/model2/lip/surfac-lung.htm
    http://patologiadeorgaosesistemas.blogspot.com.br/2010/09/sara-sindrome-da-angustia-respiratoria.html

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  4. GRUPO B
    Postagem esclarecedora! Na verdade a ideia de praticidade e "rapidez" que toma conta da sociedade moderna acaba por iludir e facilitar a adesão a tratamentos cirúrgicos desnecessários e caros para o Estado construindo um ciclo vicioso de "falsa conveniência" e pondo em risco a saúde de mães e bebês. Além dos problemas causados ao sistema respiratório pela exposição prematura dos pulmões, os partos cesáreas também aumentam o risco de sobrepeso e diabetes tipo 1 nos neonatos pelo contato inicial às bactérias do ambiente hospitalar e não exposição à microbiota do trato genital da mãe (que é o ideal para desenvolver as primeiras linhas de defesa imunológica), podendo prejudicar a destruição das células pancreáticas de maneira autoimune e consequentemente falhando na produção de insulina. Até a próxima!

    REFERÊNCIA:
    http://www.paisefilhos.com.br/gravidez/cesarea-e-problemas-de-saude

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  5. GRUPO J
    Ótima postagem!
    O número de partos cesários no brasil é muito grande.Isso é uma questão até cultural.Um dos argumentos usados com maior frequência para explicar os altos números é que a brasileira não quer sofrer. De fato, o parto normal no Brasil submete a gestante a dores desnecessárias. Métodos que são comuns em outros países são ignorados no país. Nos hospitais, por exemplo, o parto costuma ser feito com a mulher deitada, o que dificulta a saída do bebê: as posições recomendadas são de agachamento ou mesmo em pé, porque a força da gravidade ajuda o processo. Além disso, é regra a utilização da ocitocina, que aumenta a dilatação e as doloridas contrações.
    O parto normal, portanto, não precisaria ser sinônimo de sofrimento. Mas um modelo de saúde implantado no Brasil há mais de três décadas em tudo induz à cesariana - uma operação que de fato é rápida e prática, mas também é cara e eleva em até 120 vezes as chances de problemas respiratórios para o recém-nascido e em três vezes o risco de morte materna.
    "Desde o pré-natal, o procedimento brasileiro é centrado no médico e não em uma equipe multidisciplinar, com enfermeiras obstetras, como acontece em todo o mundo. Em qualquer outro lugar, o médico só é acionado quando algo anormal acontece. Aqui, fatores como o pagamento da cirurgia, as informações a respeito dela e os preconceitos da gestante levam à cesariana. Além de um problema de saúde pública, essa operação se tornou uma questão cultural", afirma a médica obstetra Suzanne Serruya, uma das diretoras da OMS no Brasil.
    REFERENCIA:
    http://veja.abril.com.br/noticia/saude/cesariana-por-que-no-brasil-ela-e-uma-epidemia/

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  6. GRUPO G

    O outro lado da moeda também deve ser visto para poder melhor avaliar a questão.
    Embora, particularmente, eu seja muito a favor do parto normal (inclusive tendo nascido por um parto normal após um parto cesáreo), compreendo que as poucas desvantagens do parto normal e as vantagens do cesáreo podem ser significativas para a livre escolha pessoal, profissional e contratual entre a paciente e o médico.

    Às vezes, é fácil julgarmos as pessoas por aquilo que elas acreditam ser diferente do que nós acreditamos, mas sabemos que os valores variam de pessoa para pessoa, e tais valores e opiniões devem ser respeitados.

    De fato, há pessoas e profissionais que abusam desse direito, mas temos que ter cuidado ao adotar como meta, a qualquer custo, o parto normal para a maioria das mulheres, contrariando seus valores e desejos.

    Não há dúvidas que no caso de um mal posicionamento do feto, por exemplo, é justificativa para um parto cesáreo. Contudo, tem-se que considerar também a opinião da mãe, que pode ter questões pessoais que expliquem seu interesse pelo parto cesáreo, como medo da dor, medo da imprevisibilidade ou até mesmo o simples interesse por preservação de seus aspectos sexuais físicos. Um dos aspectos negativos nesse sentido é a possibilidade de necessidade de se fazer a Episiotomia, um corte na passagem vaginal para alargamento do canal, que, embora haja suturas restauradoras, pode não voltar ao normal.

    Outro fator a se respeitar também é a opinião profissional de cada médico, excluindo-se os casos de omissão da verdadeira justificativa, os médicos podem ter liberdade de preferir trabalhar com o método de parto cesáreo agendado. Ao meu ver, parece difícil encontrar estudantes de medicina que desejam ser obstetras, dando a justificativa (preconceituosa ou não) de dificuldade de uma vida organizada ou padronizada, tendo que estar à disposição das condições de parto da paciente grávida à qualquer hora do dia ou da noite.
    Já ouvi, também, algumas opiniões sobre o interesse de se agendar cesáreas para uma melhor atuação profissional e para uma melhor qualidade de vida.

    Não duvido das maiores chances de qualidade de vida do bebê no caso de parto normal, nem quero dar a entender que os números não podem ou não devam ser modificados, mas é importante termos uma visão e compreensão de todos as possíveis justificativas e aconselhar para que esses número cheguem naturalmente ao ponto de interesse e não apenas que seja colocado como obrigação aos médicos uma atitude que hoje pode ser considerada como correta.

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  7. Ótimo post, pessoal! Como vocês citaram, o surfactante é composto por uma parte lipídica e uma parte proteica. A parte lipídica é a mais expressiva em quantidade, já que representa aproximadamente 90% do surfactante em massa. E o principal componente dessa parte lipídica é a fosfatidilcolina, presente nas formas saturada e insaturada. Na forma saturada, possui duas cadeias de ácidos graxos saturados, sobretudo o ácido palmítico. Na forma insaturada, possui pelo menos uma cadeia de ácido graxo monoinsaturado.

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