Sejam bem-vindos a mais uma publicação do Blog Bioquímica
do Parto Humanizado!
Já abordamos diversos assuntos tais como ocitocina, as
vantagens do aleitamento materno, cesárea agendadas, dentre outros!
Mas você pode se perguntar...
“E quando o pequenino resolve chegar mais cedo?!”
Parto
pré-termo
À essa chegada antecipada do bebê damos o nome de pré-termo.
O
nascimento pré-termo é aquele que ocorre antes da 37ª semana de gestação – é o
problema perinatal atual mais importante, pois está associado à morbidade e
mortalidade significativas no início da vida. Sua prevalência é elevada e está
aumentando em países desenvolvidos e em algumas cidades brasileiras, nas quais
também é o principal fator que favorece a mortalidade infantil, principalmente
no período perinatal. No Brasil, com as informações provenientes do Sistema de
Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), não é possível estimar-se sua
prevalência devido à baixa confiabilidade dos dados referentes à idade
gestacional. Sendo assim, são necessários estudos populacionais para se avaliar
a sua prevalência e evolução ao longo do tempo.
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Figura 1. |
Uma
recente revisão de estudos de base populacional no Brasil avaliou o aumento do
nascimento pré-termo no país por meio de pesquisa nas bases de dados Medline e
Lilacs, incluindo estudos publicados em periódicos, teses e dissertações, desde
1950. Foram encontrados 71 estudos, dos quais restaram 12 que cumpriam
integralmente os critérios de inclusão. A taxa de nascimento pré-termo variou
de 3,4 a 15% nas regiões Sul e Sudeste, entre 1978 e 2004. Na região Nordeste,
estudos realizados entre 1984 e 1998 mostraram taxas de 3,8 a 10,2%, também com
tendência de aumento. Não foram encontrados estudos das regiões Norte e
Centro-Oeste. Os autores concluem que há uma clara evidência de aumento das
taxas de nascimento pré-termo no país.
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Figura 2. |
O
parto pré-termo pode ser espontâneo ou medicamente induzido. Dentre os
espontâneos existem dois subtipos: precedido por trabalho de parto prematuro ou
devido à ruptura prematura de membranas, independente de o parto ser vaginal ou
cesariano; quando medicamente induzido, o parto ocorre por indicação materna ou
fetal, podendo ser iniciado com medicamentos ou ser realizada cesariana sem
trabalho de parto. O aumento recente na intervenção médica contribuiu para o
aumento na prevalência do nascimento pré-termo, sendo que uma parcela dos
partos pré-termo medicamente induzidos parece ser incorretamente indicada,
provocando prematuridade iatrogênica. No Brasil observa-se uma verdadeira
“epidemia” de cesárea, associada a índices extremamente elevados de nascimentos
pré-termo, alguns ocorrendo sem razão médica aparente. Como já discutimos em
publicação anterior! Porém, a etiologia do nascimento pré-termo não é bem
conhecida.
O
parto pré-termo pode ser dividido de acordo com a idade gestacional em:
· Prematuridade extrema, <
28 semanas (5%).
· Prematuridade grave, 28-30
semanas (15%).
· Prematuridade moderada, 31-33
semanas (20%).
· Prematuridade quase-termo,
34-36 semanas (60%).
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Figura 3. |
Fatores de risco
· História reprodutiva de PPT
anterior e de reprodução assistida.
· Hemorragia anteparto, rotura
prematura das membranas, anomalias uterinas, mioma, conização do colo
(notadamente aquelas feitas com lâmina de bisturi frio).
· Fatores fetais/intrauterinos:
prenhez gemelar, anomalias fetais, polidrâmnio.
· Infecção: corioamnionite,
bacteriúria, vaginose bacteriana com história de PPT.
· Fatores demográficos:
baixo-nível socioeconômico e educacional, etnicidade (em países desenvolvidos),
idade materna 35 anos.
· Hábitos de vida: tabagismo,
uso de drogas ilícitas, estresse, abuso físico.
· Assistência pré-natal
deficiente, baixo peso pré-gravídico e ganho de peso inadequado na gravidez. Os
diagnósticos mais frequentemente associados ao parto pretermo indicado são as
desordens hipertensivas, hemorragia e sofrimento fetal agudo e crônico (CIUR).
Quais as condições para que o feto seja viável?
A
viabilidade é definida como a capacidade dos fetos de sobreviver no meio
extra-uterino (i.e., após um parto prematuro). Geralmente, fetos pesando menos
de 500g ao nascimento não sobrevivem. Muitas crianças nascem a termo com peso
baixo por causa de retardo do crescimento intra-uterino. Entretanto, alguns
fetos que nascem pesando menos de 500g poderão sobreviver se receberem cuidados
adequados no pós-parto; estes fetos são denominados crianças com peso
extremamente baixo ao nascimento, ou crianças imaturas. A maioria dos fetos que
nascem pesando entre 1.500 e 2.500g sobrevive, mas pode apresentar
complicações; são as chamadas crianças prematuras. A prematuridade é uma das
causas mais comuns de morbidade morte perinatal.
Para o
feto adquirir tal viabilidade é fundamental que ele desenvolva algumas
características e estruturas, além da maturação básica dos sistemas
fundamentais. Estruturas como verniz caseosa, lanugo e surfactante.
A
verniz caseosa consiste em um material gorduroso, com aspecto de queijo. Esta é
constituída por um material gorduroso secretado pelas glândulas sebáceas do
feto e por células mortas da epiderme. A verniz caseosa protege a delicada pele
do feto contra abrasões, rachaduras e endurecimento que poderia resultar em
exposição ao líquido amniótico.
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Figura 4. Verniz caseosa. |
Geralmente,
o corpo do feto com 20 semanas já está coberto por uma penugem muito delicada,
o lanugo, que ajuda a manter a verniz caseosa presa à pele.
Enquanto
isso, com 24 semanas, as células epiteliais secretoras (pneumócitos tipo II)
dos septos interalveolares do pulmão começam a secretar o surfactante, um
líquido tensoativo que mantém abertos os alvéolos pulmonares em desenvolvimento.
(Detalhes sobre surfactante em publicação anterior.)
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Figura 5. Exemplo de lípideos. |
Ficou curioso sobre prematuridade? O que acha de acompanhar o primeiro ano de vida de um prematuro?
Assista! É emocionante...
Pois é
isso, pessoal! Parto é algo muito rico em informações, e estaremos sempre
trazendo novos assuntos pertinentes ao nosso tema.
Até a
próxima!
Referências
MOORE K. L.; PERSAUD T. V. N. Embriologia Clínica. 7ed. Elservier: Rio de Janeiro, 2004.
MONTENEGRO, C. A. B.; REZENDE FILHO, J. Descolamento prematuro da placenta. In:
MONTENEGRO, C. A. B.; REZENDE FILHO, J. Rezende obstetrícia. 11.ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2010. p.409-415.
BETTIOL. H.; Epidemiologia do nascimento pré-termo: tendências atuais. Departamento de Puericultura e Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. 2010.
Referências
MOORE K. L.; PERSAUD T. V. N. Embriologia Clínica. 7ed. Elservier: Rio de Janeiro, 2004.
MONTENEGRO, C. A. B.; REZENDE FILHO, J. Descolamento prematuro da placenta. In:
MONTENEGRO, C. A. B.; REZENDE FILHO, J. Rezende obstetrícia. 11.ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2010. p.409-415.
BETTIOL. H.; Epidemiologia do nascimento pré-termo: tendências atuais. Departamento de Puericultura e Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. 2010.
GRUPO L
ResponderExcluirBem legal a postagem! Vale ressaltar que as causas do nascimento de um bebê prematuro em geral são maternas, ou seja, são condições que a mãe apresenta. Entre elas, podemos destacar: infecção urinária; pré-eclâmpsia; descolamento prematuro de placenta; diabetes gestacional; distúrbios da tireoide; infecções congênitas, como toxoplasmose, citomegalovírus, sífilis, aids; uso de bebidas alcoólicas e drogas ilícitas. No entanto, algumas condições do bebê também podem levar ao nascimento de um bebê prematuro, como presença de síndrome genética e má formação fetal que pode ser ocasionado pelo contato com agentes teratogênicos (qualquer substância, organismo, agente físico ou estado de deficiência, que estando presente durante a vida embrionária ou fetal, produz alteração na estrutura ou função da descendência).
O conhecimento sobre os partos pré-termos (e, por consequência, das características dos bebês pre-maturos) são fundamentais para um parto humanizado. Postagem muito esclarecedora.
ResponderExcluirUma das recomendações para as futuras lactantes era a massagem dos seios para estimular a produção de leite, pois aumentava a produção de ocitocina, e, consequentemente, facilitava a ejeção do leite. Entretanto, essa mesma ocitocina também pode provocar partos pré-termos, pois também estimulam as contrações uterinas. Dessa forma, deve ser evitada nos primeiros estágios da gravidez, não sendo recomentada até as últimas semanas.
Postagem muito boa. Detalhando melhor a fibronectina fetal: é uma glicoproteína de alto peso molecular encontrada na interface materno-fetal e tem função adesiva. É liberada na secreção vaginal quando ocorre qualquer processo de agressão/lesão na matriz extracelular da interface decidual-coriônica e por isso está associada ao parto prematuro. É normalmente encontrada na secreção vaginal nas primeiras 22 semanas de gestação e após a 36ª semana gestacional.
ResponderExcluirA fibronectina fetal é aplicada basicamente em dois grupos de gestantes:
a) Gestantes sintomáticas, com queixas de contrações uterinas;
b) Gestantes assintomáticas, mas de alto risco para prematuridade (antecedente de parto prematuro espontâneo e gestação gemelar).